São Paulo, quarta-feira, 23 de agosto de 2006

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PLÍNIO FRAGA

Cartas com soluções falsas

RIO DE JANEIRO - No filme "Traffic" (2000), de Steven Soderbergh, um juiz é nomeado para a agência norte-americana de combate às drogas. Reúne seus principais assessores e faz uma pergunta que permanece todo o filme sem resposta: "Alguém aí tem uma idéia nova para combater o tráfico?"
A sabatina da Folha com os candidatos ao governo do Estado do Rio vem mostrando que velhas idéias, muitas delas já com atestado de fracasso fazendo aniversário, voltam a ser brandidas como solução para estruturar uma política pública de restrição à comercialização ilegal de entorpecentes.
Na falta de idéia melhor, os candidatos apontam o uso do Exército nas ruas como forma de "mandar um recado" à marginália de que o jogo deve mudar. Mesmo confrontados com as estatísticas de segurança que apontam que não houve redução da criminalidade em períodos do patrulhamento do Exército, os políticos saem-se com a argumentação do efeito moral.
A solução verde-oliva, de eficácia contestável, ganha corpo pela falta de idéias novas. Além dessa solução, os candidatos só têm a dizer que farão tudo aquilo que o governante de plantão deixou de fazer.
Lembra cena do mesmo "Traffic" sobre a lógica do poder. O filme mostra um general citando um líder político forçado a renunciar que deixa duas cartas para o sucessor. Aconselhava que, na primeira crise em que se encontrasse sem saída, o novo mandatário abrisse a primeira carta. Estaria salvo. Na segunda vez que isso se repetisse, a segunda carta deveria ser aberta.
Logo o sucessor estava encurralado e foi obrigado a abrir a primeira carta. Estava escrito: "Ponha toda a culpa em mim". A crise se foi. Na segunda vez em que se viu encurralado, abriu a segunda carta. O conselho pouco surpreendente: "Sente e escreva duas cartas".


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