|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PLÍNIO FRAGA
Cartas com soluções falsas
RIO DE JANEIRO - No filme
"Traffic" (2000), de Steven Soderbergh, um juiz é nomeado para a
agência norte-americana de combate às drogas. Reúne seus principais assessores e faz uma pergunta
que permanece todo o filme sem
resposta: "Alguém aí tem uma idéia
nova para combater o tráfico?"
A sabatina da Folha com os candidatos ao governo do Estado do
Rio vem mostrando que velhas
idéias, muitas delas já com atestado
de fracasso fazendo aniversário,
voltam a ser brandidas como solução para estruturar uma política
pública de restrição à comercialização ilegal de entorpecentes.
Na falta de idéia melhor, os candidatos apontam o uso do Exército
nas ruas como forma de "mandar
um recado" à marginália de que o
jogo deve mudar. Mesmo confrontados com as estatísticas de segurança que apontam que não houve
redução da criminalidade em períodos do patrulhamento do Exército, os políticos saem-se com a argumentação do efeito moral.
A solução verde-oliva, de eficácia
contestável, ganha corpo pela falta
de idéias novas. Além dessa solução, os candidatos só têm a dizer
que farão tudo aquilo que o governante de plantão deixou de fazer.
Lembra cena do mesmo "Traffic"
sobre a lógica do poder. O filme
mostra um general citando um líder político forçado a renunciar
que deixa duas cartas para o sucessor. Aconselhava que, na primeira
crise em que se encontrasse sem
saída, o novo mandatário abrisse a
primeira carta. Estaria salvo. Na segunda vez que isso se repetisse, a
segunda carta deveria ser aberta.
Logo o sucessor estava encurralado e foi obrigado a abrir a primeira carta. Estava escrito: "Ponha toda a culpa em mim". A crise se foi.
Na segunda vez em que se viu encurralado, abriu a segunda carta. O
conselho pouco surpreendente:
"Sente e escreva duas cartas".
Texto Anterior: Brasília - Fernando Rodrigues: A melhor CPI Próximo Texto: Antonio Delfim Netto: Previsões eleitorais Índice
|