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Só um passo
Medida do STF que proíbe nepotismo é um avanço, embora mantenha intactas as estruturas do empreguismo estatal
A INICIATIVA do Supremo
Tribunal Federal de
proibir a contratação
de parentes até terceiro grau em cargos estatais de
confiança respeita o espírito da
Carta de 1988. A Câmara vinha
adiando discutir o tema, ainda
houvesse um projeto aprovado
no Senado desde 1997. Agora,
com a edição da súmula vinculante, toda a administração pública terá de acatar o princípio.
A decisão do Supremo tende a
melhorar, disciplinar e moralizar a contratação para cargos
sem concurso. Ninguém deve
nutrir expectativas, contudo,
acerca de uma revolução que
abale a prática de lotear postos
públicos a pessoas sem condições mínimas para exercê-lo.
Em primeiro lugar, nada garante que a deliberação não seja
burlada. Haverá sempre recurso
aos "laranjas", bem como à contratação de empresas que abriguem o interesse familiar. A esse
respeito, fez bem o STF ao proibir também o chamado "nepotismo cruzado" -quando autoridades em diferentes áreas fazem
favores mútuos. Resta o problema de como fiscalizar essa enorme rede de relações.
Outra ressalva realista feita pelo tribunal diz respeito às exceções para as quais foi permitida a
contratação de parentes. Trata-se dos cargos de natureza política -secretários municipais e estaduais e ministros-, cuja indicação, de fato, exige alto grau de
confiança. A competência técnica do nomeado nesses casos,
ademais, sempre estará sob
maior vigilância do público.
Ainda que responda a um evidente clamor social, a disposição
do Supremo de proibir o nepotismo não toca, e não poderia tocar,
na principal causa do aparelhamento do Estado brasileiro. O
setor público, em todos os seus
níveis, continua a oferecer uma
quantidade abusiva de postos de
livre provimento. Por meio desse
subterfúgio penetra grande parte da corrupção, do patrimonialismo e da ineficiência que maculam o serviço público.
A supressão dos parentes da
lista de pessoas passíveis de indicação não abalará, obviamente,
os negócios nos balcões do empreguismo estatal, que vão de
vento em popa. Enquanto o Supremo ensaia iniciativas parciais
de moralização, o presidente Lula escarnece da sociedade com a
proposta de criar mais um cabide
para apaniguados, no intrigante
Ministério da Pesca.
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