São Paulo, sábado, 23 de agosto de 2008

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Editoriais

O teste da Bolsa

NA ESTEIRA da valorização dos preços dos produtos agrícolas, minerais e do petróleo, o Ibovespa atingiu o auge no mês de maio de 2008 com 72.592 pontos. Nos meses seguintes, acumulou desvalorização de 26,5%. Em agosto, o índice da Bolsa brasileira tem oscilado em torno de 54 mil pontos. Nesse processo, o valor de mercado das companhias listadas na Bovespa caiu de US$ 1,6 trilhão para US$ 1,2 trilhão.
A despeito do aprofundamento da crise internacional, que reduziu o apetite pelo risco dos investidores estrangeiros, prosseguiram as emissões de ações no Brasil. Essas operações, em que empresas buscam recursos no mercado acionário, alcançaram R$ 32 bilhões em 12 operações, até meados de agosto de 2008. O volume para todo o ano de 2007 foi de R$ 36,2 bilhões.
Nas operações diárias de compra e venda de ações, no entanto, os investidores estrangeiros continuaram desempenhando papel crucial -movimentaram 35,4% dos recursos durante os primeiros oito meses de 2008. Os investidores institucionais domésticos, como os fundos de pensão, foram responsáveis por 28% do volume, seguidos pelos investidores individuais, com 25,4%.
Um dado positivo é que a parcela das pessoas físicas com recursos na Bolsa permanece elevada. O número dos aplicadores em busca de melhor rendimento para a poupança familiar cresce desde 2003 e alcançou 528,7 mil no mês passado.
A contínua elevação da taxa básica de juros, contudo, prejudica o desempenho do mercado de capitais. Já se observa uma migração dos investidores do mercado de ações para o de títulos de renda fixa, como os CDBs privados, e a própria dívida pública. Além disso, as taxas de juros elevadas não favorecem as perspectivas de crescimento da produção e dos lucros das empresas, o que tende a afastar novos investidores.
A interrupção do ciclo de alta na Bovespa ameaça a continuidade de um processo inédito na economia brasileira. Cada vez mais empresas estão utilizando o mercado de capitais a fim de captar recursos para investir na produção. Com a alta dos juros e a retração dos papéis de dívida privada, a demanda das corporações por recursos para ampliar a capacidade produtiva e a infra-estrutura tende a sobrecarregar, mais uma vez, o BNDES.
Resta saber se essa nova e promissora fonte de financiamento, o mercado de capitais brasileiros, resiste ao teste da instabilidade da Bovespa.


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