São Paulo, domingo, 23 de agosto de 2009

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EMÍLIO ODEBRECHT

O aquífero Guarani

O USO RACIONAL dos recursos naturais tem sido um tema prioritário em minha vida de empresário.
Dentre estes recursos, destaco a água doce, cujas reservas disponíveis nos rios e lagos do Brasil representam 12% do total do planeta. É um inestimável patrimônio -que se junta a outro ainda pouco conhecido, que são as águas subterrâneas do Sistema Aquífero Guarani, ou SAG. Trata-se de uma das maiores reservas do planeta, com mais de 1,1 milhão de km2, que se estende pelo subsolo de oito Estados brasileiros e de três outros países: Paraguai, Uruguai e Argentina.
Só no Estado de São Paulo estima-se que suas águas sejam exploradas por mais de mil poços.
O SAG é um aquífero cujas águas, bastante antigas, têm um volume estimado em torno de 40.000 km3. Mas a recarga natural anual é limitada, o que exige a definição de um patamar sustentável de exploração, de modo a garantir o seu equilíbrio futuro.
Há outras ameaças: de poluição das áreas de recarga, onde a água infiltra, porque muitas se localizam em plantações, sujeitas, portanto, à contaminação por fertilizantes e agrotóxicos; e da vulnerabilidade dos afloramentos (locais em que a água chega à superfície), onde ocorrem despejos de esgotos, implantação de aterros e lixões e deposição de resíduos industriais, entre outros.
Para conservação do reservatório, há providências básicas que podem ser tomadas por todos, como: educação das pessoas para o uso consciente da água; proteção sanitária dos poços em operação, para que não funcionem como porta de entrada de poluentes, e tamponamento dos poços desativados.
Nos últimos cinco anos, uma parceria entre os governos dos quatro países, o Fundo Global de Meio Ambiente, o Banco Mundial e a Agência Internacional de Energia Atômica resultou no investimento de quase US$ 30 milhões em estudos, investigações e implantação de projetos-piloto, visando ampliar o conhecimento técnico sobre as características do SAG.
Foram também estabelecidos sistemas de informação e modelos institucionais que podem ser utilizados na sua gestão.
Entretanto, após a conclusão deste trabalho, no final de 2008, o tema não pode sair da pauta dos quatro países, visando à continuidade de ações estratégicas e articuladas entre o setor público, universidades, centros de pesquisa, organizações não governamentais e setor privado.
O momento positivo que foi criado não pode ser desperdiçado, e, como país de maior área sobre o aquífero, além de principal usuário de suas águas, cabe ao Brasil liderar esta agenda.


EMÍLIO ODEBRECHT escreve aos domingos nesta coluna.


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