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EMÍLIO ODEBRECHT
O aquífero Guarani
O USO RACIONAL dos recursos naturais tem sido um tema prioritário em minha vida de empresário.
Dentre estes recursos, destaco a
água doce, cujas reservas disponíveis nos rios e lagos do Brasil representam 12% do total do planeta. É
um inestimável patrimônio -que
se junta a outro ainda pouco conhecido, que são as águas subterrâneas do Sistema Aquífero Guarani,
ou SAG. Trata-se de uma das maiores reservas do planeta, com mais
de 1,1 milhão de km2, que se estende pelo subsolo de oito Estados
brasileiros e de três outros países:
Paraguai, Uruguai e Argentina.
Só no Estado de São Paulo estima-se que suas águas sejam exploradas por mais de mil poços.
O SAG é um aquífero cujas
águas, bastante antigas, têm um
volume estimado em torno de
40.000 km3. Mas a recarga natural
anual é limitada, o que exige a definição de um patamar sustentável
de exploração, de modo a garantir
o seu equilíbrio futuro.
Há outras ameaças: de poluição
das áreas de recarga, onde a água
infiltra, porque muitas se localizam em plantações, sujeitas, portanto, à contaminação por fertilizantes e agrotóxicos; e da vulnerabilidade dos afloramentos (locais
em que a água chega à superfície),
onde ocorrem despejos de esgotos,
implantação de aterros e lixões e
deposição de resíduos industriais,
entre outros.
Para conservação do reservatório, há providências básicas que
podem ser tomadas por todos,
como: educação das pessoas para
o uso consciente da água; proteção
sanitária dos poços em operação,
para que não funcionem como
porta de entrada de poluentes,
e tamponamento dos poços
desativados.
Nos últimos cinco anos, uma
parceria entre os governos dos
quatro países, o Fundo Global de
Meio Ambiente, o Banco Mundial
e a Agência Internacional de Energia Atômica resultou no investimento de quase US$ 30 milhões
em estudos, investigações e
implantação de projetos-piloto,
visando ampliar o conhecimento
técnico sobre as características
do SAG.
Foram também estabelecidos
sistemas de informação e modelos
institucionais que podem ser utilizados na sua gestão.
Entretanto, após a conclusão
deste trabalho, no final de 2008, o
tema não pode sair da pauta dos
quatro países, visando à continuidade de ações estratégicas e articuladas entre o setor público, universidades, centros de pesquisa, organizações não governamentais e setor privado.
O momento positivo que foi
criado não pode ser desperdiçado,
e, como país de maior área sobre o
aquífero, além de principal usuário
de suas águas, cabe ao Brasil liderar esta agenda.
EMÍLIO ODEBRECHT escreve aos domingos nesta
coluna.
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