|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
Chances, só para os amigos
SÃO PAULO - Cumprindo o que parece ser sua única função desde que a
crise deixou o governo completamente atoleimado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva faz discursos cada
vez mais incompreensíveis.
No mais recente "pronunciamento", o do 7 de Setembro, o presidente
chegou a dizer que seu governo estava redistribuindo renda. Será que
não há no Palácio pelo menos uma
alma piedosa para dizer que a distribuição está de fato se dando, mas em
favor da "pátria financeira"?
Como bem lembrou Gustavo Patú,
nesta Folha, alguns dias depois, o que
os credores da dívida brasileira recebem, graças aos obscenos juros praticados pelo governo, é 20 vezes mais
do que vai para programas sociais.
É óbvio que não foi o governo Lula
que inventou a igualmente obscena
desigualdade brasileira. Não é, pois,
o único culpado, mas é culpado, sim,
de não ter nem mudado um pouquinho o quadro nem posto no horizonte algo que permita acreditar que
mudanças haverá, no século 22 ou
23, mas haverá.
Ao contrário. O mais recente relatório do Banco Mundial deixa claro,
conforme o relato de Fernando Canzian nesta Folha, que "o Brasil reúne
quase todos os ingredientes possíveis
(...) para continuar perpetuando essa
situação" (estar entre os quatro países mais desiguais do mundo).
Note-se que o estudo não vem de
uma dessas ONGs que se reúnem a
cada janeiro para cantar que "outro
mundo é possível". O canto dessa
gente é sistematicamente desprezado
pelas elites, das quais o PT e o próprio
presidente passaram a fazer parte
destacada. Dizem que são radicais.
Talvez sejam, mas e daí? Não é
igualmente uma situação brutalmente radical estar entre os quatro
países mais desiguais do mundo?
O Banco Mundial não pede o céu.
Pede apenas "chances iguais a todos,
independentemente de cor, raça ou
nível social".
Pena que o governo do PT tenha
dado chances apenas aos Delúbios,
Valérios e Toninhos da Barcelona.
@ - crossi@uol.com.br
Texto Anterior: Editoriais: POSTES PRIVADOS Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Os breves Índice
|