São Paulo, sábado, 23 de setembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ROGÉRIO GENTILE

Passeio de cadela

DELÚBIO SOARES era íntimo de Lula. Caiu, silenciou e até hoje vive numa boa -livre, leve e, principalmente, solto. Nunca entregou ninguém. A pergunta arranha a garganta: como ele paga, atualmente, suas próprias contas?
Waldomiro Diniz era amigo de José Dirceu. Caiu, silenciou e também segue tranqüilo. Nunca entregou ninguém, assim como tampouco viu o sol quadriculado. A garganta arranha de novo.
Na República da Companheirada, valem os mesmos princípios descritos por Tommaso Buscetta em suas confissões: os "uomini d'onore" jamais falam de coisas das quais sabem que não devem falar. Em compensação, gozam do apoio e da solidariedade dos demais.
Delúbio e Waldomiro são apenas dois exemplos notórios no PT. Desde o início do governo do companheiro-mor, os escândalos se multiplicam, e os envolvidos, idem.
Mas, tirando Rogério Buratti, que, convenhamos, tinha razões emocionais para tanto, ninguém nunca atirou, de fato, para cima.
Todo mundo "matou no peito" -com o perdão pela metáfora futebolística, tão usual neste governo. Não será diferente agora, acredito. Nem mesmo Freud Godoy, o sujeito que se apresentou à Polícia Federal com cara de suspeito acuado -barba por fazer, agasalho puído e cigarro entre os dedos-, deve falar algo de concreto. Não teremos no PT, acho, um Freud Buscetta.
No máximo, se não tiver mesmo como negar sua atuação no escândalo da compra de testemunho e de acusações (e, quem sabe, da supressão de provas contra petistas), dirá que fez tudo por conta própria.
Claro, o colega de caminhada e de futebol, faz-tudo do Planalto, ajuda o companheiro-patrão, mas não precisa dizer aonde leva a cachorrinha da família para passear quando ela quer fazer cocô. Não precisa porque tem autonomia de vôo, digo, de passeio de cadela.
Freud conhece Luiz Inácio desde os anos 80. Foi seu segurança em campanhas, morou por alguns meses na residência oficial do Palácio da Alvorada e tinha a incumbência de organizar as "peladas" na Granja do Torto -era ele o encarregado de convidar os jogadores.
É tão próximo do presidente que, sabe-se agora, teve o prazer de manter relações comerciais com Marcos Valério. A sua empresa de segurança recebeu, em 2003, R$ 98,5 mil de uma agência de publicidade do operador do mensalão. Com sua demissão da Secretaria Particular da Presidência, a pergunta arranha a garganta mais uma vez: como ele pagará suas contas?

 

Em meio ao escândalo, Alckmin protagonizou a nota cômica da semana. Mirando em Lula, disse que "governo que é Jader Barbalho e Ney Suassuna não pode dar certo. Está cercado de um submundo da política terrível". FHC que o diga.

ROGÉRIO GENTILE é editor de Cotidiano.

Texto Anterior: Rio de Janeiro - Luiz Fernando Vianna: O Bataclã
Próximo Texto: Frases

Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.