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ROGÉRIO GENTILE
Passeio de cadela
DELÚBIO SOARES era íntimo
de Lula. Caiu, silenciou e até
hoje vive numa boa -livre,
leve e, principalmente, solto. Nunca entregou ninguém. A pergunta
arranha a garganta: como ele paga,
atualmente, suas próprias contas?
Waldomiro Diniz era amigo de
José Dirceu. Caiu, silenciou e também segue tranqüilo. Nunca entregou ninguém, assim como tampouco viu o sol quadriculado. A garganta arranha de novo.
Na República da Companheirada, valem os mesmos princípios
descritos por Tommaso Buscetta
em suas confissões: os "uomini d'onore" jamais falam de coisas das
quais sabem que não devem falar.
Em compensação, gozam do apoio
e da solidariedade dos demais.
Delúbio e Waldomiro são apenas
dois exemplos notórios no PT.
Desde o início do governo do companheiro-mor, os escândalos se
multiplicam, e os envolvidos, idem.
Mas, tirando Rogério Buratti,
que, convenhamos, tinha razões
emocionais para tanto, ninguém
nunca atirou, de fato, para cima.
Todo mundo "matou no peito"
-com o perdão pela metáfora futebolística, tão usual neste governo.
Não será diferente agora, acredito. Nem mesmo Freud Godoy, o sujeito que se apresentou à Polícia
Federal com cara de suspeito acuado -barba por fazer, agasalho puído e cigarro entre os dedos-, deve
falar algo de concreto. Não teremos
no PT, acho, um Freud Buscetta.
No máximo, se não tiver mesmo
como negar sua atuação no escândalo da compra de testemunho e de
acusações (e, quem sabe, da supressão de provas contra petistas),
dirá que fez tudo por conta própria.
Claro, o colega de caminhada e
de futebol, faz-tudo do Planalto,
ajuda o companheiro-patrão, mas
não precisa dizer aonde leva a cachorrinha da família para passear
quando ela quer fazer cocô. Não
precisa porque tem autonomia de
vôo, digo, de passeio de cadela.
Freud conhece Luiz Inácio desde
os anos 80. Foi seu segurança em
campanhas, morou por alguns meses na residência oficial do Palácio
da Alvorada e tinha a incumbência
de organizar as "peladas" na Granja do Torto -era ele o encarregado
de convidar os jogadores.
É tão próximo do presidente que,
sabe-se agora, teve o prazer de
manter relações comerciais com
Marcos Valério. A sua empresa de
segurança recebeu, em 2003, R$
98,5 mil de uma agência de publicidade do operador do mensalão.
Com sua demissão da Secretaria
Particular da Presidência, a pergunta arranha a garganta mais uma
vez: como ele pagará suas contas?
Em meio ao escândalo, Alckmin
protagonizou a nota cômica da semana. Mirando em Lula, disse que
"governo que é Jader Barbalho e
Ney Suassuna não pode dar certo.
Está cercado de um submundo da
política terrível". FHC que o diga.
ROGÉRIO GENTILE é editor de Cotidiano.
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