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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Liberdade de expressão
NÃO GOSTO muito de dar
opiniões sobre o país dos
outros. Temos problemas
suficientes para nos ocupar aqui no
Brasil. Mas certas medidas são
preocupantes, porque ferem os
princípios fundamentais do ser humano.
O presidente Hugo Chávez determinou que todas as escolas da
Venezuela, públicas e privadas,
têm de disseminar em seus alunos
as idéias do chamado socialismo do
século 21. Nas suas palavras, "a
educação venezuelana tem de ser
livre dos valores individualistas do
sistema de ensino capitalista.
Quem não seguir essa orientação
terá a escola fechada. Haverá intervenções e nacionalizações. Nós
[o governo] assumiremos as crianças" ("Chávez faz ameaças a escolas", "O Estado de S. Paulo",
18/9/2007).
Para dar curso a esse plano, foi
organizado um corpo de inspetores, cuja função é verificar o conteúdo ministrado pelos professores. Está sendo preparada uma padronização dos livros didáticos a
que toda escola terá de se submeter
a partir de 2008.
Não é a primeira vez que o presidente Chávez intervém na economia e na sociedade venezuelana.
Juízes já foram afastados, a Corte
Suprema foi toda trocada, a televisão privada foi estatizada, empresas estrangeiras foram nacionalizadas. O presidente Chávez "ganhou" do Congresso a "ley habilitante", que lhe permite governar
por decreto.
Agora chegou a vez das crianças.
É demais. No mundo civilizado,
costuma-se confiar na capacidade
de discernimento das pessoas. O
socialismo será a escolha natural
das crianças se, quando adultas,
vierem a considerar esse o melhor
regime para o progresso da Venezuela. Por que tirar-lhes a possibilidade de conhecer idéias diferentes? Por que forçar a homogeneidade num mundo que, a duras penas, aprendeu a valorizar a diversidade?
A Venezuela é um país de boa
tradição política. Chegou a ser o
berço da democracia cristã da
América Latina. Com 26 milhões
de habitantes, o país tem um PIB
de US$ 150 bilhões. O petróleo é o
seu carro-chefe. Por muitos anos
haverá dinheiro para que se ofereça uma educação de boa qualidade
às crianças e aos adolescentes.
Diante de todos esses fatores favoráveis, assiste-se ao garroteamento da liberdade da juventude.
Nenhum povo merece ser educado
numa escola de uma só idéia. Vivemos na sociedade do conhecimento, na qual o trabalho é feito em
grupo e com base em conhecimentos multidisciplinares. Sinceramente, não esperava ver isso em
um país vizinho do Brasil, onde, felizmente, desfrutamos de liberdade para exprimir o que pensamos.
antonio.ermirio@antonioermirio.com.br
ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES escreve aos domingos nesta coluna.
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