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Partidos atropelados
Racha tucano em São Paulo e aliança entre PT e PSDB em Belo Horizonte atestam fragilidade crônica das agremiações
O
PANORAMA das eleições
municipais contribui
para desfazer o que
possa ter soado como
exagero na metáfora do "sepulcro caiado" aplicada aos partidos
políticos, em maio, pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Carlos Ayres Britto. "Por
fora está pintadinho, mas por
dentro é uma putrefação só", disse o ministro, na época, em entrevista à Folha.
A alegoria traduz uma exasperação difusa com a incompetência das agremiações em sustentar expressão institucional para
as correntes de pensamento na
sociedade. Campanhas eleitorais
põem a nu, de modo constrangedor, essa debilidade partidária.
Tome-se o caso do PSDB em
São Paulo, berço de tantos quadros que o sustentaram por oito
anos no governo federal. Incapaz
de unir-se em torno de um candidato, exibe a disputa fratricida
diariamente no rádio e na TV.
Parte dos peessedebistas apóia
Gilberto Kassab, do Democratas,
minando as chances do correligionário Geraldo Alckmin. Este,
apesar da defecção, demonstra
resistência inesperada, sustentando-se no páreo com ataques
ao antigo aliado Kassab, eleito
como vice do então prefeito José
Serra em chapa homologada pelo mesmo PSDB. De um lado e
outro do racha tucano, vão às favas os escrúpulos partidários.
Outro exemplo vem de Belo
Horizonte. O candidato Marcio
Lacerda (PSB) tem apoio do governador Aécio Neves (PSDB) e
do prefeito Fernando Pimentel
(PT). O arranjo heterodoxo conta com a bênção do presidente
da República. Lula chegou a criticar a direção nacional do próprio partido pelo veto contra a
coligação entre agremiações que
se digladiam noutras praças.
Disputas internas entre facções e corriolas são inerentes, é
claro, à vida partidária. Para citar um exemplo externo, as alas
Clinton e Obama do Partido Democrata dos Estados Unidos se
engalfinharam durante meses, à
vista de todos. Uma vez tomada a
decisão em favor do segundo,
entretanto, a instituição mal ou
bem se uniu em torno da candidatura vitoriosa.
Por aqui os costumes políticos
são outros, marcados pela anteposição de interesses pessoais,
locais e regionais aos objetivos
mais estratégicos do partido e da
corrente de opinião política que
supostamente representa. Políticos não hesitavam em trocar de
partido, a depender das vantagens que pudessem angariar
com a traição ao mandato obtido
nas urnas. A prática centenária
só foi coibida com a decisão do
Supremo Tribunal Federal, em
2007, de legislar no lugar do
Congresso omisso e punir infidelidade com perda de mandato.
A campanha em curso vem
atestar os estreitos limites dessas intervenções: não se alteram
hábitos políticos arraigados só
com atos voluntariosos e reformas mirabolantes. Não há norma capaz de obrigar candidatos
oposicionistas a se distanciarem
de Lula e seus atuais índices de
popularidade, por exemplo. Isso
exigiria um grau de coerência e
responsabilidade que a lenta
evolução dos partidos como instituições está longe de alcançar.
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