São Paulo, terça-feira, 23 de setembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Editoriais

editoriais@uol.com.br

O desafio sul-africano

APÓS NOVE anos no poder, o presidente da África do Sul, Thabo Mbeki, 66, anunciou sua renúncia no último domingo. Foi uma saída repentina, após disputa no interior do seu partido, o CNA (Congresso Nacional Africano).
É o fim de uma era. Ao suceder a Nelson Mandela (1994-1999), Mbeki representou a consolidação da sociedade pós-apartheid no país. Deixa como legado uma inédita estabilidade e a emergência de uma classe média negra.
Mbeki não conseguiu, no entanto, nenhum trunfo notável contra a pobreza renitente do país. A desigualdade de renda cresce e o desafio da polarização racial ainda não foi superado.
Pesam contra Mbeki, ainda, a influência negativa na crise do conturbado Zimbábue, cujo ditador ele recusou-se a condenar, e a desastrosa política pública anti-Aids. Mbeki apoiou a tese estapafúrdia de que o vírus HIV pode não ser a causa da epidemia.
Com o ocaso de Mbeki, o modelo de poder representado pelo majoritário CNA é a chave para o futuro. Sigla clandestina durante o regime do apartheid, o CNA representou a conciliação das comunidades branca e negra nas delicadas negociações que levaram ao fim da segregação.
O processo culminou com a eleição de Mandela, sua maior liderança. Depois, levou ao sufrágio do próprio Mbeki -reconduzido em 2004-, e tudo indica que consagrará o novo homem forte do partido, Jacob Zuma, cotado para vencer em 2009.
Seria o retorno deste antigo aliado de Mbeki, que se transformou em grande rival depois de afastado em meio a acusações de corrupção, há três anos. Agora há dúvidas se Zuma conseguirá controlar os radicais do CNA. Está em risco a unidade do partido.
Os próximos meses vão indicar se a jovem democracia permanecerá sinalizando um futuro promissor para o continente.


Texto Anterior: Editoriais: Partidos atropelados
Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: E ainda abanamos o rabo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.