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O desafio sul-africano
APÓS NOVE anos no poder, o
presidente da África do
Sul, Thabo Mbeki, 66,
anunciou sua renúncia no último domingo. Foi uma saída repentina, após disputa no interior
do seu partido, o CNA (Congresso Nacional Africano).
É o fim de uma era. Ao suceder
a Nelson Mandela (1994-1999),
Mbeki representou a consolidação da sociedade pós-apartheid
no país. Deixa como legado uma
inédita estabilidade e a emergência de uma classe média negra.
Mbeki não conseguiu, no entanto, nenhum trunfo notável
contra a pobreza renitente do
país. A desigualdade de renda
cresce e o desafio da polarização
racial ainda não foi superado.
Pesam contra Mbeki, ainda, a
influência negativa na crise do
conturbado Zimbábue, cujo ditador ele recusou-se a condenar, e
a desastrosa política pública anti-Aids. Mbeki apoiou a tese estapafúrdia de que o vírus HIV pode
não ser a causa da epidemia.
Com o ocaso de Mbeki, o modelo de poder representado pelo
majoritário CNA é a chave para o
futuro. Sigla clandestina durante
o regime do apartheid, o CNA representou a conciliação das comunidades branca e negra nas
delicadas negociações que levaram ao fim da segregação.
O processo culminou com a
eleição de Mandela, sua maior liderança. Depois, levou ao sufrágio do próprio Mbeki -reconduzido em 2004-, e tudo indica
que consagrará o novo homem
forte do partido, Jacob Zuma, cotado para vencer em 2009.
Seria o retorno deste antigo
aliado de Mbeki, que se transformou em grande rival depois de
afastado em meio a acusações de
corrupção, há três anos. Agora há
dúvidas se Zuma conseguirá
controlar os radicais do CNA. Está em risco a unidade do partido.
Os próximos meses vão indicar
se a jovem democracia permanecerá sinalizando um futuro promissor para o continente.
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