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LUIZ FERNANDO VIANNA
Tiririca é o show da vida
RIO DE JANEIRO - Fartamente repisado na imprensa nos últimos
dias, o espanto com o sucesso da
candidatura Tiririca é um tanto
espantoso.
Parece que não temos contato
diário com o ninho de onde saiu Tiririca: a TV aberta brasileira.
O humorista despontou e permanece em programas em que o riso
nasce do grotesco, a mesma matéria-prima de boa parte do que as
grandes emissoras veiculam.
Visto por dezenas de milhões de
pessoas, o que é o "Domingão do
Faustão" senão um monturo de cenas violentas oferecidas ao sadismo coletivo, poluição publicitária
e, com exceções, música ruim? (O
prefeito do Rio, Eduardo Paes, é um
político que elege as videocassetadas como o que há de melhor para
ver, o que diz muito sobre ele e sua
classe.)
As alternativas dominicais na TV
aberta são Silvio Santos, Gugu Liberato, "Pânico na TV"... Um brejo
de tiriricas.
E, para ficar no mesmo dia da semana, ainda há o "Fantástico", no
qual alguns momentos de bom jornalismo se misturam a tribunais extrajudiciais, reality shows em que
adultos berram com crianças e outras excrescências.
O horário eleitoral gratuito está
compulsoriamente encaixado na
grade das emissoras. Não deixa de
ser, portanto, um programa de TV.
No vazio da política em que vivemos, fenômeno global identificado
pela perda de credibilidade do sistema de representação e dos partidos -mas que é mais profundo-,
os protagonistas das campanhas
são aqueles já reconhecidos pelo
espectador massificado e/ou os que
dominam as armas do grotesco.
Em Rio ou São Paulo, já foram
campeões de votos Agnaldo Timóteo, Clodovil, Enéas... Neste ano,
entre outras "celebridades", serão
Tiririca, Netinho, Romário, Wagner
Montes. Não adianta fazer cara de
nojo. Eles são a zorra total que deixamos esse país virar.
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