São Paulo, quinta-feira, 23 de setembro de 2010

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KENNETH MAXWELL

Quintal de ninguém

À medida que Dilma Rousseff se aproxima de uma vitória fácil na eleição presidencial, vale a pena considerar brevemente o que isso significa para o futuro, especialmente para as relações entre o Brasil e os Estados Unidos.
O Brasil avançou muito, em termos políticos e econômicos, desde as decepções recorrentes nos anos de expansão e de contração da economia.
O crédito por essa mudança, especialmente pela continuidade essencial de uma gestão econômica sólida, deve ser dividido entre Lula e o seu predecessor, Fernando Henrique Cardoso, ainda que nenhum se disponha a reconhecer a contribuição do outro.
Mas, na realidade, é aquilo sobre o que os dois concordam, e não aquilo que os divide, que embasou a emergência do Brasil como protagonista importante no cenário internacional.
Ao contrário de Dilma Rousseff, porém, tanto Lula como Fernando Henrique têm conexões surpreendentemente fortes com os Estados Unidos.
Lula tinha um relacionamento já antigo com o movimento sindical norte-americano, que encorajou a sua ascensão como líder sindical não comunista, enquanto Fernando Henrique era bem conhecido no mundo acadêmico, que apoiou muito a retomada de suas atividades no Brasil depois do exílio.
É claro que, em suas esferas pessoais, ambos foram artífices de seu destino, mas é igualmente verdade que ambos se beneficiaram de conexões duradouras com grupos de interesses dos EUA diversificados e poderosos.
O Brasil agora expandiu suas conexões comerciais e políticas com a Ásia, incorporou número muito maior de seus cidadãos à classe média e auxiliou muito os pobres por meio de transferências condicionais de renda. Expandiu imensamente a sua capacidade agrícola e se tornou o maior exportador mundial de café, açúcar, suco de laranja, tabaco, etanol, carne bovina e aves e ocupa o segundo posto entre os exportadores de soja e derivados.
A capacidade industrial brasileira é impressionante, e o mesmo se aplica ao vigor de seu setor financeiro. Acima de tudo, o Brasil conseguiu resistir ao colapso financeiro mundial.
Os Estados Unidos, enquanto isso, continuam obcecados com seus traumas internos, envolvidos em duas guerras e confrontando incertezas econômicas. A América Latina, especialmente o Brasil, ocupa posição muita baixa em sua lista de prioridades.
Resta determinar como a possível presidente Rousseff lidará com os Estados Unidos nos próximos anos. Mas uma coisa é certa: o relacionamento requererá esforço, e de ambas as partes.


KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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