|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS HEITOR CONY
Fatos e fotos
RIO DE JANEIRO - Feliz a época
que, em vez de um, produz dois logotipos. Vivemos um tempo em que
as imagens valem mais do que as
palavras e conceitos. A Guerra do
Vietnã, com a sua crua obscenidade, ficou naquela foto da menina
nua e queimada pela napalm. Bem
menos trágica, mas reveladora do
transe que agora vivemos, temos
dois momentos que certamente
não ficarão para sempre, mas enquanto durarem servirão de síntese
de nossas agruras e penas.
A primeira imagem é a da ex-gestante que acabou na capa de uma
revista, na realidade apenas um começo, pois a moça ameaça aparecer
cada vez mais. Guindada subitamente ao patamar das celebridades,
enquanto milhões de candidatas
penam para conseguir os 15 minutos de fama, ela confia em que veio
para ficar -e é bom mesmo que fique. Fez por onde, embora a fórmula que adotou não possa ser seguida
por todas. É preciso ter mais coragem do que peito.
A outra imagem é mais complicada, mas igualmente reveladora do
nosso tempo. Nelson Jobim, após
anos de vida pública em que vestiu
o terno formal de ministro e a toga
de magistrado, desde que assumiu a
pasta da Defesa ainda não se fixou
num visual que o explique aos olhos
da nação. Ainda não usou o macacão dos corredores da Fórmula 1
nem o uniforme do pessoal do
Exército da Salvação, mas deverá
chegar lá para mostrar a amplidão
de suas nobres funções.
Há quem ache exagerada a sua
exposição na mídia, segurando cobras e lagartos no meio da selva,
inspecionando as misérias do Haiti
e deixando rolar o seu nome para
futura avaliação dos candidatos a
candidato na próxima sucessão
presidencial. Falta ressuscitar a
tropa de Oswaldo Cruz contra a varíola, vestindo a farda de mata-mosquito para entrar e vencer a
guerra contra a dengue.
Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: Remake Próximo Texto: Marcos Nobre: Experiência segregada Índice
|