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Competição distorcida
OS PARLAMENTARES recebem por mês uma verba
indenizatória que varia de
R$ 15 mil a R$ 35 mil, quantia
que se soma ao salário do representante, de R$ 16,5 mil. Ao fim
do mês, portanto, pelo menos R$
31,5 mil caem na conta bancária
de cada congressista.
Conforme mostrou esta Folha
ontem, os parlamentares gastaram mais de R$ 8 milhões de
verba indenizatória em setembro - e o item que lidera a gastança é "divulgação de mandato", com R$ 1,8 milhão.
A "divulgação do mandato"
abrange dispêndios para produzir material em gráficas e comprar espaço publicitário em rádios, jornais e sites. Um deputado, por exemplo, gastou R$ 35
mil para imprimir 13 mil exemplares de uma revista distribuída
no Paraná, sua base eleitoral.
A pretexto de divulgar o mandato, portanto, cria-se uma alavanca para a reeleição do parlamentar. Flui por essa via mais
um "recurso não contabilizado"
do financiamento público de
campanhas para algumas centenas de privilegiados -o dinheiro
da verba indenizatória, afinal, é
sacado do contribuinte.
Com a "divulgação do mandato", o congressista sai em vantagem na disputa eleitoral, em
comparação com a maioria dos
adversários, que não dispõe do
privilégio. Um exército de assessores parlamentares -cada gabinete pode contratar até 25-,
dublês de cabos eleitorais, ajuda
a ampliar essa distorção.
O sistema se retroalimenta, o
que diminui as chances de renovação do Congresso. Verbas e regalias em torno do mandato legislativo deveriam ser drasticamente reduzidas -o que deputados e senadores só farão, contra
seus interesses imediatistas, mediante pressão da sociedade.
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