São Paulo, domingo, 23 de outubro de 2011

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A favorita

Crescimento econômico e tentações autoritárias compõem o cenário da provável reeleição de Cristina Kirchner na Argentina

Com mais de 50% de preferência nas pesquisas, e a uma grande distância de seus principais adversários, a presidente Cristina Kirchner tem tudo para antecipar as comemorações de sua vitória no primeiro turno, nas eleições que se realizam hoje na Argentina.
Não é pouca coisa, considerando-se que há menos de três anos sua administração obtinha pouco mais de 20% de apoio. A prolongada crise que, em torno da questão dos impostos para a exportação, opôs Cristina ao setor agropecuário em 2008 foi superada.
Das ameaças de desabastecimento e dos confrontos sociais que marcaram o início de seu governo, assim, pouca memória resta -enquanto o trauma vivido pelo colapso econômico do país, durante os anos 1999-2002, ainda pesa sobre a imagem de setores da oposição.
Cristina Kirchner mantém, assim, a popularidade que seu marido, o falecido presidente Néstor Kirchner, obteve com o rápido crescimento econômico que se seguiu àqueles anos de moratória, alto desemprego e impensáveis -para os padrões históricos argentinos- índices de pobreza.
A manutenção do crescimento não se fez, todavia, sem riscos -tanto nos aspectos econômicos como nos políticos. O aumento do protecionismo, a elevação nos gastos públicos e a aceleração da inflação -maquiada pelo governo- constituem o "pendant" econômico, numa simetria típica dos países latino-americanos, do populismo que marca o estilo de Kirchner.
Mais que populismo: a tentação autoritária, sempre facilitada em tempos de bonança econômica, esteve presente de forma acentuada na atual administração. Em vez de apenas acusar a imprensa de intenções conspiratórias, como tem sido hábito de setores petistas, o governo Kirchner passou à prática -mobilizando um arsenal intimidatório contra os jornais.
Somam-se a isso os rumores de que estaria em curso o projeto de garantir à favorita no pleito de hoje o direito de reeleição ilimitada, e o espectro do chavismo, aparentemente em declínio na sua Venezuela de origem, parece ganhar sobrevida no caso de uma vitória consagradora de Cristina Kirchner.
Entre Argentina e Venezuela, entretanto, não são poucas as diferenças. Uma economia mais diversificada, e um sistema político dotado de estruturas mais sólidas, tende a evitar a reprodução do modelo que, aliás, encontra no histrionismo pessoal de Hugo Chávez uma base peculiar de sustentação.
Tampouco se pode atribuir à oposição argentina o volume de erros e omissões que se verificam na sua equivalente venezuelana. Será por seu relativo poder de contrapeso, no Legislativo, ao prestígio presidencial que se poderá medir a extensão -e os perigos- da eventual vitória de Cristina Kirchner.


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