São Paulo, domingo, 23 de outubro de 2011

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Uma outra evolução

Tudo, como se sabe, vai mal -pelo menos é o que se costuma depreender da leitura dos jornais cotidianos. Vem da revista científica "Nature", todavia, a informação sobre uma pesquisa que pode trazer relativo consolo a tal constatação.
As coisas vão mal, é certo -mas já foram muito piores. Segundo Steven Pinker, cientista de destaque mundial na área da psicologia evolucionista, o mundo nunca esteve tão pacífico como agora.
Declinam, afirma o pesquisador, todas as formas da violência humana. Povos indígenas cometem, proporcionalmente, centenas de vezes mais homicídios do que os europeus do século 21. Conquistadores do passado, glorificados em prosa e verso, hoje seriam condenados genocidas.
A pesquisa, tal como apresentada na revista "Nature", joga com intervalos de tempo bastante díspares. Analisando estatísticas sobre terrorismo, Pinker nota que as mortes em atentados caíram pela metade desde os anos 1970.
No que diz respeito aos homicídios na Europa, o pesquisador acompanhou números que remontam ao século 14. Para celebrar o declínio das mortes em genocídios, a pesquisa toma como ponto de partida o fim da Segunda Guerra.
Se a guerra e o homicídio já pareceram mais "naturais" no passado, é inegável que seu potencial destrutivo tornou-se incomparavelmente maior no último século.
Os "anjos bons da nossa natureza", declara de qualquer modo o psicólogo, estariam vencendo a disputa pela alma humana. Diante de estatísticas tão variadas, o observador cético há de contentar-se, talvez, com a mera ideia de que tais anjos pelo menos possam existir.
Nesse sentido, é provável que a pesquisa de Pinker tenha como principal intenção política a de afastar, ao menos provisoriamente, uma tendência de opinião especialmente em voga nos dias atuais.
Em razão das próprias descobertas na área da psicologia evolucionista, fortaleceu-se uma visão fatalista da natureza humana -mais ditada pelas moléculas do DNA do que pelos esforços civilizacionais e pedagógicos em que o Ocidente se engajou.
O animal humano não é tudo, parece dizer Pinker; a história, com seus massacres e desastres, também pode conter dentro de si promessas menos deprimentes.
Quem sabe, depois de tantas interpretações pessimistas do dar-winismo, seja possível considerar, cientificamente, as possibilidades de um outro tipo de evolução.


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