São Paulo, quinta-feira, 23 de novembro de 2006

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No limiar da guerra civil

O ASSASSINATO de Pierre Gemayel coloca o Líbano, mais uma vez, no limiar da guerra civil. Paradoxalmente, é no verdadeiro pânico que os libaneses desenvolveram em relação à guerra civil que reside a melhor chance de o país evitar um conflito fratricida. Mesmo políticos normalmente exaltados estão conclamando seus partidários a reagir com calma.
O problema do Líbano é que, além de desdobrar-se para resolver as arestas resultantes de um sistema político multirreligioso que reparte o poder entre 18 seitas oficiais, o país ainda serve de palco secundário para vários conflitos no Oriente Médio.
Também alimentam a crise libanesa o conflito israelo-palestino, a conflagração no Iraque e a própria geopolítica regional, que opõe Washington e seus aliados ao eixo Damasco-Teerã.
Pierre Gemayel, cristão maronita e ministro da Indústria do governo de Fouad Siniora, foi morto por conta de suas posições anti-sírias. Apesar de ter retirado suas tropas do Líbano, Damasco ainda influi no país vizinho, através da milícia extremista Hizbollah, que também patrocina atentados terroristas.
O fracasso da política norte-americana para o Oriente Médio completa o quadro. Irã e Síria ficaram mais fortes e, após a derrota republicana no pleito legislativo dos EUA, o presidente Bush está sendo compelido a estabelecer algum tipo de diálogo com a ditadura síria. É plausível especular que, em troca do fim do apoio sírio à insurgência iraquiana, a Síria exija que os EUA abandonem o governo Siniora.
Os neoconservadores americanos fracassaram no plano de levar a democracia ao Oriente Médio. Com a vertente ideológica em xeque, espera-se que a política externa de Washington reencontre logo sua melhor tradição, realista e pragmática. É um passo necessário para tentar evitar a eclosão da guerra civil no Líbano.


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