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Abstenção pró-Irã
Ao abster-se na votação de uma
resolução das Nações Unidas contra as violações dos direitos humanos no Irã, aprovada na última
sexta-feira, a diplomacia do governo Lula manteve-se coerente
com sua política de confrontação
com os Estados Unidos.
Se os norte-americanos manobram contra moções que firam
seus aliados, então os brasileiros
recusam-se a votar reprimendas a
adversários da grande potência,
mesmo que sentenciem mulheres
a morrer apedrejadas ou se envolvam em campanhas genocidas.
O Brasil deve assumir atitude
altiva em suas relações com os
EUA, mas já são suficientes os
contenciosos com aquela nação
para que se amplie desnecessariamente as frentes de conflito.
Ao justificar a abstenção na resolução sobre o Irã, o representante brasileiro queixou-se de que os
direitos humanos são tratados na
ONU de forma "seletiva e politizada". São termos, aliás, que definem bem a atual política do Itamaraty, em contraste com a melhor tradição brasileira.
O governo Lula condenou, por
exemplo, "de forma veemente" o
golpe hondurenho. Interveio nos
assuntos internos, cedendo a embaixada para a volta do presidente
banido e, num extremo de intransigência, ainda recusa-se a aceitar
o resultado da eleição que, goste
ou não, superou o impasse.
Ao mesmo tempo, evitou manifestar-se sobre os conflitos no Irã,
onde divergências políticas foram
-e continuam sendo- tratadas
com prisões, mortes e expurgos.
No ano passado, o ditador do
Sudão, Omar al Bashir, já havia dito que tinha o "apoio do presidente Lula". O Brasil se eximira de
condenar o governo sudanês por
sua responsabilidade na campanha de "limpeza étnica" que chegou ao auge em 2004 e custou a vida de milhares de pessoas.
Incongruências dessa espécie
só servem para minar a credibilidade de nossa diplomacia.
A política externa deve ser um
instrumento de defesa dos interesses econômicos do país, colocando-se a favor da resolução negociada e pacífica de conflitos e de
princípios como direitos humanos
e autodeterminação.
No caso do Irã, não havia laços
comerciais relevantes a atenuar a
abstenção -que, dado o histórico
recente, ganhou sabor de um renovado apoio ao governo de Mahmoud Ahmadinejad.
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