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Ipea sob risco
Concurso com viés ideológico coroa mudanças negativas que colocam em risco a credibilidade do instituto
CAMINHA a passos largos a
reformulação do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea),
abrigado na Secretaria de Assuntos Estratégicos, do ministro Roberto Mangabeira Unger. Infelizmente trata-se de uma mudança para pior.
Desde a posse do economista
Marcio Pochmann na presidência do órgão, em agosto de 2007,
diversas medidas ameaçam a
imagem de isenção e excelência
técnica da repartição governamental, que conta com mais de
40 anos de tradição.
Publicações de referência foram modificadas -como o Boletim de Conjuntura. Foram afastados economistas que não se
alinhavam à doutrina de Pochmann. O último lance nessa direção foi o recente concurso público para a seleção de 62 novos
pesquisadores.
Em vez de ater-se a conteúdos
objetivos, a prova incluiu testes
que requeriam posicionamento
ideológico sobre projetos defendidos pelo governo e pelo PT.
Candidatos deveriam aderir a
pregações contra o "neoliberalismo" e a globalização.
As transformações implementadas por Pochmann têm outros
aspectos questionáveis. Com remunerações generosas oferecidas aos ingressantes, os princípios de progressão na carreira ou
de promoção baseada em mérito
ficam prejudicados.
Salários iniciais de R$ 10,9 mil
deixam pouca margem para a
evolução na carreira. A remuneração atraiu grande número de
interessados, mas não necessariamente familiarizados com as
exigências de um instituto de
pesquisa econômica: o pré-requisito da seleção era o diploma
de graduação em qualquer área
de conhecimento.
Assim, o maior e mais heterodoxo concurso da história da instituição reuniu quase 13 mil inscritos. Para um dos 15 cargos oferecidos, houve 308 candidatos
por vaga.
A introdução de um filtro ideológico para a admissão à instituição se opõe ao espírito de impessoalidade e profissionalismo que
deve reger a administração pública. O Ipea é um órgão técnico
destinado à análise metódica de
problemas econômicos e sociais,
capaz de respaldar a formulação
de políticas públicas. Deve privilegiar a excelência na formação
de seus quadros, independentemente de afinidades partidárias
ou convicções dogmáticas.
O corpo de economistas e analistas de um instituto de pesquisa econômica e social aplicada
precisa ser plural, gozar de autonomia e liberdade de pensamento. A natureza de seu trabalho é
incompatível com a censura ou a
implantação de uma única linha
de pensamento.
Com a mudança em curso, a direção do Ipea coloca em risco um
prolongado investimento institucional, responsável pela credibilidade que o órgão granjeou.
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