São Paulo, sábado, 24 de janeiro de 2004

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IGOR GIELOW

O modo petista de reformar

BRASÍLIA - A agenda dos ministros distribuída ontem pela Radiobrás trazia Pedro Malan como titular da Fazenda. Piada pronta: é, nada muda mesmo na reforma ministerial de Lula. Gracinhas à parte, é possível enfocar alguns aspectos do processo, encerrado ontem com pompas de rito de passagem pelo presidente.
1 - Há objetivos reais de mudança gerencial, mas ela não está garantida. O superministério social é uma boa idéia, e Patrus Ananias, sério. Mas será que ele terá densidade política suficiente para peitar José Dirceu e Antonio Palocci? O mesmo vale para Aldo Rebelo, alçado a ministro de contatos políticos para dividir espaço com Dirceu. Vai mesmo? Ou só irá ocupar uma sala a mais no Planalto?
2 - Lula demonstrou todo o seu emocionalismo na reforma, inclusive no anúncio. Teve ""dó no coração", seja lá o que for isso, para demitir, mas foi igualmente emocional com Cristovam Buarque. No caso, cruel, despachando por telefone alguém antes incensado no PT. Cabe dizer que o ex-ministro é uma figura superestimada, muito por culpa da benevolência do jornalismo brasiliense com gente simpática e acessível. Fez uma gestão anódina, mas o que o condenou foi reclamar demais. É bom ser amigo de Lula, mas não o contrarie.
3 - A reforma criou o mito dos grandes nomes da articulação da Câmara, que tomaram de assalto (sem ironias) o ministério. Do dia para a noite, figuras da estatura de Eunício Oliveira ganharam ares de Ulysses. Eduardo Campos, famoso na Câmara por seus olhos claros, de repente emula seu avô Arraes. Ressalte-se que ambos podem virar ótimos ministros; é tolice acreditar que nomes técnicos sejam necessariamente melhores.
4 - É difícil entender a dicotomia que Lula faz entre administradores e acadêmicos. Tarso Genro, por ter sido prefeito de capital, virou operador mais capaz que Cristovam. Mas Cristovam não foi governador? Mais: o "operador" Tarso não era o chefe da casa-mãe da masturbação sociológica do governo, o Conselhão?


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