São Paulo, sábado, 24 de janeiro de 2004

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CLÓVIS ROSSI

O Lula deles

DAVOS - John Sweeney é mais ou menos o que Luiz Inácio Lula da Silva seria se fosse norte-americano: um líder sindical combativo, que não economiza palavras para defender a "classe trabalhadora", como diria Lula, ou "the working people", como prefere Sweeney.
Mas é também parte da paisagem do establishment norte-americano e, por extensão, do capitalismo como presidente da AFL-CIO, o conglomerado de centrais sindicais. À beira dos 70 anos, Sweeney não perde a forma, como demonstrou ontem, em debate sobre a economia norte-americana no Fórum de Davos.
Depois de quatro oradores terem despejado uma catarata de otimismo (justificado) sobre o crescimento da economia dos Estados Unidos, Sweeney fez a sua lista.
"O governo Bush tem a pior performance em matéria de empregos de qualquer presidente desde a Grande Depressão" (1929/30). Quinze milhões de trabalhadores perderam o emprego; não passou um mês, dos últimos 43, em que a indústria deixasse de demitir; "os salários estão estagnados"; o sistema de saúde "está quebrado"; as anuidades universitárias "dispararam"; nas escolas públicas, "professores são despedidos"; os "únicos empregos decentes" que estão sendo criados aparecem no setor público, e por aí foi.
Fechou com a avaliação de que o que considera a "grande riqueza" dos EUA, sua portentosa classe média, está sendo aniquilada.
Sweeney terminou de falar e fez-se um denso silêncio no auditório, majoritariamente ocupado por homens de negócio.
Sweeney diz também que a recuperação econômica dos Estados Unidos está se dando sem recuperação igualmente do emprego, "de uma forma como nunca se viu antes".
É sustentável uma recuperação com essas características? Os outros debatedores acham que sim, porque emprego e salário entram pouco, hoje, nos cálculos de economistas e de quem decide políticas. Até que fale um Sweeney. Pena que Lula não seja mais um Sweeney.


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