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Avanço notável
Redução da mortalidade infantil é significativa, mas restam ainda muitos desafios para aperfeiçoar atendimento pré-natal
NUM PERÍODO de 16
anos, o Brasil conseguiu reduzir quase à
metade (46,9%) o seu
índice de mortalidade infantil.
Relatório divulgado nesta semana pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) mostra que, entre 1990 e 2006, a taxa
de óbitos de crianças entre 0 e 1
ano caiu de 46,9 por mil nascidos
vivos para 24,9 por mil.
Quando considerado o conceito mais elástico de mortalidade
na infância, que contabiliza óbitos ocorridos até os cinco anos, o
resultado é semelhante. Em
1990, morriam 59,6 crianças a
cada mil nascidas vivas, contra
29,9 por mil em 2006.
É um avanço digno de nota. O
ritmo da melhora supera a média
mundial. A boa nova não deve,
entretanto, obscurecer os desafios que restam. São ainda muito
grandes as disparidades entre as
diversas regiões do país e entre
grupos sociais.
A taxa de mortalidade infantil
(0 a 1 ano) registrada no Nordeste (36,9 por mil), por exemplo, é
48% maior do que a média nacional. Já o risco de uma criança de
família pobre perecer antes de
completar um ano é mais do que
o dobro do de um bebê cujos pais
têm altos rendimentos.
O mesmo se verifica em relação a grupos étnicos. O índice de
mortalidade para a população indígena é 138% maior do que para
a população branca; já o de filhos
de mães negras é 37% superior
ao registrado entre brancas.
Outro ponto importante diz
respeito à continuidade das reduções. Avançar a partir de agora
tende a tornar-se cada vez mais
difícil. Os progressos verificados
até o momento são atribuídos
principalmente a melhorias nas
condições de vida em geral.
Influíram fatores como maior
acesso a saneamento básico, cobertura vacinal, aprimoramento
do modelo de atenção à saúde
-com destaque para o sistema
de médico da família-, mais
mães freqüentando a escola e até
melhora discreta no perfil da
renda. Isso contribuiu para reduzir de modo mais acentuado
as mortes por doenças infecciosas e parasitárias, que são as
principais causas de óbito de bebês de mais de um mês.
A faixa na qual agora se concentram as mortes, com 51% do
total de óbitos, é a chamada neonatal precoce (zero a seis dias).
Aí as causas de óbito mais comuns são problemas relacionados ao parto, como descolamento de placenta, asfixia ao nascer,
prematuridade etc. Não são
questões que se resolvam "no
atacado", com obras ou com investimentos de caráter geral.
Ao contrário, para prevenir as
mortes neonatais há que fazer
esforços direcionados às gestantes individualmente. É preciso
que elas tenham acesso a um
bom atendimento pré-natal.
O dado de que, entre 2000 e
2005, houve um pequeno aumento (2,1%) da mortalidade
materna, que passou de 52,3 óbitos por cem mil bebês nascidos
vivos para 53,4, reforça essa tese.
Sem prejuízo das demais ações
sanitárias, é preciso direcionar
esforços para que mulheres grávidas tenham acesso a pelo menos seis consultas pré-natais e de
fato compareçam a elas, como
recomenda a OMS.
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