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KENNETH MAXWELL
Camas famosas
EM "O CASO do Hotel Bertram", um romance de Agatha
Christie, a indomável investigadora Miss Jane Marple retorna
ao hotel em que se havia hospedado durante uma visita a Londres na
infância.
Ela se surpreende com o fato de
que, passadas tantas décadas, nada
tivesse mudado no Bertram's. Por
isso, começa a suspeitar de se aquilo não passava de uma fachada por
trás da qual tramóias de toda espécie se desenrolavam. O romance
conta como Miss Marple deslindou
os verdadeiros mistérios do
Bertram's.
Quando ia a Londres, eu costumava me hospedar em um hotel
como o Bertram's, o Basil Street
Hotel, localizado em uma tranqüila
ruazinha de Knightsbridge, entre a
Harrods e a Sloane Street. Nada no
hotel havia mudado desde o começo do século 20. O Basil continuava
inteiramente eduardiano em termos de decoração, repleto de antiguidades, e era um lugar muito
apreciado por idosas duquesas viúvas vindas da Escócia para uma visita à capital. Mas, no ano passado,
o Basil sucumbiu aos valores imobiliários astronômicos que valem
para aquela parte de Londres. Havia uma interessante conexão entre o Brasil e o Basil. O historiador
José Honório Rodrigues costumava se hospedar lá. Em sua correspondência, publicada alguns anos
atrás pelo Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro, existe um
bilhete ao historiador britânico
Charles Boxer, convidando-o para
um jantar no Basil. Ou seja, eu estive em muito boa companhia.
Agora que o Basil não existe
mais, nesta semana estou hospedado no Cadogan Hotel, um pouco
adiante na Sloane Street. O antigo
porteiro do Basil se transferiu para
lá, e por isso sou recebido como um
velho amigo. O Cadogan tem uma
história movimentada. Era aqui
que o rei Eduardo 7º, quando ainda
príncipe de Gales, costumava visitar sua amante, Lillie Langtry. Em
visita a um dos colégios da Universidade de Cambridge, recentemente, dormi no quarto que o príncipe
Charles, o atual príncipe de Gales,
usa quando volta à sua velha escola.
Não me ocorreu o pensamento de
que estava saindo da cama usada
pelo bisavô e sua amante para a cama freqüentada pelo bisneto e sua
amante.
Mas, quando apanhei um táxi na
King's Cross Station e pedi que o
motorista me levasse ao Cadogan
Hotel, ele me disse: "O senhor sabe
o que aconteceu lá?". Eu respondi
que sabia, claro: era lá que o rei
Eduardo 7º se encontrava com a
sra. Langtry. "Oh, não", ele disse.
"Foi lá que Oscar Wilde foi preso".
O motorista estava certo.
Assim, se acrescentarmos o famoso amante de Wilde, lorde Alfred Douglas, as camas famosas em
que já dormi estão começando a
parecer lotadas.
KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras
nesta coluna.
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