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RUY CASTRO
Nem todos patos
RIO DE JANEIRO - Deu no jornal.
O cartógrafo alemão Jürgen Wollina dedicou 12 anos de vida a estudar
a obra do ilustrador americano Carl
Barks para mapear o território de
seus personagens -a cidade de Patópolis, habitada pelos patos Donald e Patinhas e por seus sobrinhos Huguinho, Zezinho e Luizinho. Sim, faltava na geografia universal um mapa de Patópolis.
Depois de analisar as cerca de
500 histórias estrelando Donald,
criadas por Barks para revistas de
Walt Disney entre 1942 e 1968, Wollina descobriu que o pato mudou
de endereço 33 vezes nesse período
e que a fabulosa caixa-forte de seu
tio Patinhas não era uma, mas 20,
espalhadas por Patópolis. Isso revela que Patinhas era muito mais rico
do que pensávamos e Donald, muito mais neurótico.
Conhecendo a cidade melhor que
o próprio Barks, Wollina concluiu
que Patópolis devia ter uns 600
km2, algo assim como Teresópolis
(RJ). Era um lugar próspero e, exceto pelas peripécias de Donald e
Patinhas, sem grandes comoções
sociais para sua população de 100
mil a 200 mil habitantes, nem todos patos.
Você se perguntará o que leva um
homem a investir 12 anos de vida
real em personagens fictícios. Bem,
os romancistas não fazem outra
coisa. E muitos fazem ou fizeram
isso tão bem que nos transportam
para seu universo de faz-de-conta.
Nos últimos 200 anos, o mundo
não teria sido grande coisa sem os
romances de, digamos, Jane Austen, Alexandre Dumas ou Machado
de Assis. O ser humano precisa fantasiar -e acreditar na fantasia.
Talvez, um dia, Wollina resolva
mapear a Washington de Barack
Obama. Até lá saberemos se, depois
da imensa fantasia, digo, euforia
inicial, ela voltou a ser um lugar
próspero e sem grandes comoções
sociais para sua população de 550
mil a 600 mil habitantes, nem todos patos.
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