São Paulo, sábado, 24 de janeiro de 2009

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RUY CASTRO

Nem todos patos

RIO DE JANEIRO - Deu no jornal. O cartógrafo alemão Jürgen Wollina dedicou 12 anos de vida a estudar a obra do ilustrador americano Carl Barks para mapear o território de seus personagens -a cidade de Patópolis, habitada pelos patos Donald e Patinhas e por seus sobrinhos Huguinho, Zezinho e Luizinho. Sim, faltava na geografia universal um mapa de Patópolis.
Depois de analisar as cerca de 500 histórias estrelando Donald, criadas por Barks para revistas de Walt Disney entre 1942 e 1968, Wollina descobriu que o pato mudou de endereço 33 vezes nesse período e que a fabulosa caixa-forte de seu tio Patinhas não era uma, mas 20, espalhadas por Patópolis. Isso revela que Patinhas era muito mais rico do que pensávamos e Donald, muito mais neurótico.
Conhecendo a cidade melhor que o próprio Barks, Wollina concluiu que Patópolis devia ter uns 600 km2, algo assim como Teresópolis (RJ). Era um lugar próspero e, exceto pelas peripécias de Donald e Patinhas, sem grandes comoções sociais para sua população de 100 mil a 200 mil habitantes, nem todos patos.
Você se perguntará o que leva um homem a investir 12 anos de vida real em personagens fictícios. Bem, os romancistas não fazem outra coisa. E muitos fazem ou fizeram isso tão bem que nos transportam para seu universo de faz-de-conta. Nos últimos 200 anos, o mundo não teria sido grande coisa sem os romances de, digamos, Jane Austen, Alexandre Dumas ou Machado de Assis. O ser humano precisa fantasiar -e acreditar na fantasia.
Talvez, um dia, Wollina resolva mapear a Washington de Barack Obama. Até lá saberemos se, depois da imensa fantasia, digo, euforia inicial, ela voltou a ser um lugar próspero e sem grandes comoções sociais para sua população de 550 mil a 600 mil habitantes, nem todos patos.


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