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Letargia rodoviária
Acidentes e mortes voltam a crescer em vias federais, enquanto o governo adia concessões privadas e investimentos
TODOS OS anos, encerrado
o Carnaval, procede-se
ao balanço macabro de
acidentes e mortes nas
estradas apinhadas de turistas. A
contabilidade deste ano foi de
novo alarmante: 2.417 acidentes
nas precárias estradas federais,
que cobraram 145 vidas.
O cômputo da Polícia Rodoviária Federal aponta 8% de aumento no número de ocorrências e
15% mais mortes, em comparação com o Carnaval anterior. Em
2006, haviam sido 2.236 acidentes e 126 vítimas fatais.
As péssimas condições das estradas não constituem o único
fator concorrente para essa tragédia. Imprudência de motoristas e pedestres e mau estado de
veículos decerto contribuem de
forma expressiva. Coibi-los, por
meio de fiscalização rigorosa, é
dever do poder público -o que
sabidamente não ocorre.
Nas estradas estaduais paulistas, observou-se aumento similar de acidentes, 8,5% (de 1.275
para 1.384). O número de mortes, por outro lado, caiu 22,2%
(de 54 para 42), segundo a Secretaria Estadual dos Transportes.
As estradas federais que cortam
o Estado de São Paulo tampouco
figuram entre as campeãs de insegurança. Nelas foram registrados 196 acidentes (contra 344
nos trechos catarinenses) e 10
óbitos (24 em Minas Gerais).
Não são melhores nem mais
prudentes os motoristas que trafegam por São Paulo. O mais provável é que as cifras um pouco
menos alarmantes -52 mortes
ainda são um descalabro- se expliquem pela relativa superioridade das estradas paulistas. Traçados e pavimentação melhores,
sinalização freqüente e policiamento atuante fazem diferença.
Por outro lado, a Via Dutra,
mais importante rodovia federal
a cortar São Paulo, tem melhor
desempenho que as congêneres.
Concedida para operação privada em 1996, foi reformada e se
encontra em estado de conservação muito superior à Régis Bittencourt, não por acaso apelidada "Rodovia da Morte".
No governo federal, impera a
paralisia. A própria Régis Bittencourt integra um lote de sete trechos de vias federais (2.600 km
ao todo) que aguarda concessão
ao setor privado. Desde 1999.
Resolvidas pendências com o
Tribunal de Contas da União, os
editais de concessão ficaram
prontos em dezembro passado,
mas em janeiro a Casa Civil
anunciou a interrupção do processo. A ministra Dilma Rousseff
alegou, na época, a necessidade
de rever as taxas de retorno dos
projetos, de maneira a reduzir as
tarifas de pedágio.
A estimativa é que os editais
sejam refeitos ao longo do semestre. Isso equivale a dizer que
tudo continua engarrafado. Nada a estranhar, numa administração que há um ano se vangloriava de uma irrisória operação
tapa-buracos e ainda hoje desvia
de sua função boa parte da arrecadação da Cide-Combustíveis.
A contribuição recolheu R$
7,92 bilhões em 2006, recursos
que lei manda aplicar em infra-estrutura de transportes. Mas o
governo, para cumprir a meta de
superávit fiscal, inclui parcela da
Cide no contingenciamento de
gastos -como ocorreu com 41%
do montante de 2002 a 2004.
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