São Paulo, terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

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CARLOS HEITOR CONY

A entrevista do Pamplona

RIO DE JANEIRO - Excelente a entrevista com Fernando Pamplona na Folha, na edição de ontem. Para todos os efeitos, deve-se dizer que o Carnaval do Rio, que em linhas gerais dá régua e compasso para os Carnavais de todo o Brasil, com as exceções da Bahia e do Recife, teve duas fases: a de antes e a de depois de Pamplona.
Prêmio do Salão do Museu de Belas Artes (viagem ao exterior), durante anos cenógrafo do Teatro Municipal, liderando a troica que emigrou para as ruas (Arlindo Rodrigues e Joãosinho Trinta), Pamplona trouxe para a festa mais popular do Brasil sua experiência teatral e sua formação intelectual e artística. Foi o melhor decorador das ruas da cidade, bebeu forte nas tradições afro-brasileiras, evitando clichês e apelações.
Sua carreira como cenógrafo foi marcada por grandes montagens, tanto na ópera como no balé. Lembro seus cenários para uma "Madama Butterfly" e, sobretudo, o trabalho de recriar aqui no Brasil os cenários que Picasso desenhou para "O Chapéu de Três Bicos", aprovados com entusiasmo pelo próprio Picasso e por Leonide Massine, que criou o famoso balé sobre música de Manuel de Falla.
Pamplona tornou-se um dos mais informados e honestos comentadores do Carnaval, tanto na Rede Globo como na Rede Manchete. Foi o primeiro a denunciar que os sambas-enredo se transformavam em marchinhas e lamentou a ausência cada vez maior dos negros nas fatias nobres dos desfiles.
Eu o admiro há muito tempo, tenho a honra de ter a capa do meu primeiro romance feita por ele. Tive depois outros capistas no mercado editorial, mas a capa do Pamplona tem uma força que até hoje me impressiona. Só não gosto quando o intitulam de "carnavalesco". Ele é, acima de tudo, um artista e um caráter.


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