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CARLOS HEITOR CONY
A entrevista do Pamplona
RIO DE JANEIRO - Excelente a
entrevista com Fernando Pamplona na Folha, na edição de ontem.
Para todos os efeitos, deve-se dizer
que o Carnaval do Rio, que em linhas gerais dá régua e compasso
para os Carnavais de todo o Brasil,
com as exceções da Bahia e do Recife, teve duas fases: a de antes e a de
depois de Pamplona.
Prêmio do Salão do Museu de Belas Artes (viagem ao exterior), durante anos cenógrafo do Teatro
Municipal, liderando a troica que
emigrou para as ruas (Arlindo Rodrigues e Joãosinho Trinta), Pamplona trouxe para a festa mais popular do Brasil sua experiência teatral e sua formação intelectual e artística. Foi o melhor decorador das
ruas da cidade, bebeu forte nas tradições afro-brasileiras, evitando
clichês e apelações.
Sua carreira como cenógrafo foi
marcada por grandes montagens,
tanto na ópera como no balé. Lembro seus cenários para uma "Madama Butterfly" e, sobretudo, o trabalho de recriar aqui no Brasil os cenários que Picasso desenhou para
"O Chapéu de Três Bicos", aprovados com entusiasmo pelo próprio
Picasso e por Leonide Massine, que
criou o famoso balé sobre música
de Manuel de Falla.
Pamplona tornou-se um dos
mais informados e honestos comentadores do Carnaval, tanto na
Rede Globo como na Rede Manchete. Foi o primeiro a denunciar
que os sambas-enredo se transformavam em marchinhas e lamentou
a ausência cada vez maior dos negros nas fatias nobres dos desfiles.
Eu o admiro há muito tempo, tenho a honra de ter a capa do meu
primeiro romance feita por ele. Tive depois outros capistas no mercado editorial, mas a capa do Pamplona tem uma força que até hoje me
impressiona. Só não gosto quando
o intitulam de "carnavalesco". Ele
é, acima de tudo, um artista e um
caráter.
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