São Paulo, terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

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MELCHIADES FILHO

Senso de oportunidade

BRASÍLIA - No momento em que a crise econômica torna-se tangível, e mais cruel do que se previa, o país assiste a uma curiosa inversão de papéis. A oposição se cala, e o governo, que em tese poderia ser fustigado pelo acúmulo de más notícias, faz cobranças em público e se esforça para mostrar indignação.
Assim, é Lula quem torpedeia a política monetária que estrangula o crédito -como se os juros estivessem altos à revelia dele. A ministra-candidata Dilma Rousseff foi escalada para dar visibilidade a um evento da Força Sindical que só faltou malhar um boneco do presidente do Banco Central. O tucano Arthur Virgílio, no Senado, saiu em defesa de Henrique Meirelles.
É Lula, também, quem toma o microfone para protestar contra as demissões na Vale e na Embraer, empresas nunca antes neste país tão irrigadas por financiamento público. O dinheiro do Fundo de Amparo ao Trabalhador, repassado pelo BNDES, acaba pagando as despesas com corte de pessoal. O PSDB?
Soltou uma nota para reclamar apoio à iniciativa privada.
Nem o discurso da campanha alckmista de 2006 mobiliza a oposição. A voz mais insistente em favor do controle dos gastos correntes do governo federal (que não param de crescer) é a de Aloizio Mercadante, o novo líder do partido do presidente no Senado. Bizarro.
A retração econômica muda o cenário político. Dificilmente a onda continuísta de 2008 se repetirá no ano que vem. Os governadores terão menos verbas para investir -e, potencialmente, portanto, menos obras para inaugurar. Em vários Estados (Rio Grande do Sul, Paraná, Pará, Alagoas), já dá para antever a troca de guarda em 2010.
Também o Planalto terá de lidar com recursos mais escassos. Estima-se que, só no mês passado, a Receita deixou de recolher R$ 1 bilhão (o orçamento de uma cidade como Ribeirão Preto) devido à crise.
A oposição, que tanto sonhou com a janela de oportunidade, curiosamente se recolheu. Lula não.

melchiades.filho@grupofolha.com.br


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