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MELCHIADES FILHO
Senso de oportunidade
BRASÍLIA - No momento em que
a crise econômica torna-se tangível,
e mais cruel do que se previa, o país
assiste a uma curiosa inversão de
papéis. A oposição se cala, e o governo, que em tese poderia ser fustigado pelo acúmulo de más notícias,
faz cobranças em público e se esforça para mostrar indignação.
Assim, é Lula quem torpedeia a
política monetária que estrangula o
crédito -como se os juros estivessem altos à revelia dele. A ministra-candidata Dilma Rousseff foi escalada para dar visibilidade a um
evento da Força Sindical que só faltou malhar um boneco do presidente do Banco Central. O tucano Arthur Virgílio, no Senado, saiu em
defesa de Henrique Meirelles.
É Lula, também, quem toma o
microfone para protestar contra as
demissões na Vale e na Embraer,
empresas nunca antes neste país
tão irrigadas por financiamento público. O dinheiro do Fundo de Amparo ao Trabalhador, repassado pelo BNDES, acaba pagando as despesas com corte de pessoal. O PSDB?
Soltou uma nota para reclamar
apoio à iniciativa privada.
Nem o discurso da campanha
alckmista de 2006 mobiliza a oposição. A voz mais insistente em favor
do controle dos gastos correntes do
governo federal (que não param de
crescer) é a de Aloizio Mercadante,
o novo líder do partido do presidente no Senado. Bizarro.
A retração econômica muda o cenário político. Dificilmente a onda
continuísta de 2008 se repetirá no
ano que vem. Os governadores terão menos verbas para investir -e,
potencialmente, portanto, menos
obras para inaugurar. Em vários Estados (Rio Grande do Sul, Paraná,
Pará, Alagoas), já dá para antever a
troca de guarda em 2010.
Também o Planalto terá de lidar
com recursos mais escassos. Estima-se que, só no mês passado, a Receita deixou de recolher R$ 1 bilhão
(o orçamento de uma cidade como
Ribeirão Preto) devido à crise.
A oposição, que tanto sonhou
com a janela de oportunidade, curiosamente se recolheu. Lula não.
melchiades.filho@grupofolha.com.br
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