São Paulo, segunda-feira, 24 de março de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Comando Vermelho, PCC e as ONGs do mal
ROBERTO TEIXEIRA DA COSTA
O presidente Álvaro Uribe vem privilegiando uma linha severa, buscando maior apoio internacional para intensificar o combate e conseguir o que veio tardiamente: a classificação das Farc como grupo terrorista pela Organização dos Estados Americanos, no que foi imediatamente apoiada pelos demais presidentes da América do Sul, à exceção da Venezuela e do Brasil. Os colombianos, com justa razão, queixaram-se da falta de apoio dos países vizinhos, como o Brasil. Isso provocou a vinda do presidente Uribe ao nosso país, em busca de maior suporte oficial brasileiro. Muito embora a contragosto, temos que nos envolver com mais empenho do que até agora fizemos para ajudá-los, evitando um agravamento desse quadro. O que temos visto no Brasil é a força que vem de algumas das "ONGs do mal", como o Comando Vermelho, no Rio, e o PCC, em São Paulo. Elas têm ocupado espaço cada vez maior, criando um "Estado" próprio que elas mesmas regulam, por leis por elas estabelecidas e usando seu próprio poder de fogo para aterrorizar a indefesa população. Os meandros das favelas facilitam seus esconderijos, que mais se assemelham a cavernas onde se refugiam os terroristas da Al Qaeda, tornando difícil a sua localização e o seu confinamento. Não parece haver mais dúvida de que esses grupos, que devem sua posição ao narcotráfico, vêm espalhando o terror para mostrar sua força e sua audácia, que não têm limites. O que fizeram às vésperas do Carnaval para assustar a população e os turistas, importante fonte de emprego, principalmente para o Rio de Janeiro, é inominável. Mais recentemente, o assassinato do juiz da Vara de Execuções Penais de Presidente Prudente, Antônio José Machado Dias, mostra que a ousadia desses criminosos não tem limites. É preciso que a sociedade civil, em parceria com o governo, busque mecanismos para erradicar de vez esse problema, antes que ele tome a dimensão do que vem ocorrendo na Colômbia, que está à beira de uma guerra civil. O debate é essencial; deve obrigatoriamente dele fazer parte o conjunto de medidas sociais do governo -a melhoria da condição de vida e de trabalho dos policiais, melhor aparelhamento das prisões e das penitenciárias. A presença de militares no combate à criminalidade só pode ser vista como uma solução emergencial. As Febens merecem um acompanhamento especial, pois em São Paulo quase diariamente há rebeliões. E, finalmente, é preciso mais agilidade do sistema Judiciário, pois a impunidade é um fermento dessa situação. O estudo preparado pelo Instituto Fernand Braudell para o Banco Mundial, sobre a redução da criminalidade e da violência em Diadema, que teve como orientador o coronel José Vicente da Silva, precisaria ser analisado em profundidade e suas conclusões implementadas em outras cidades. Aliás, o instituto tem desenvolvido um trabalho extremamente importante nessa área. Portanto, antes que seja tarde, nossas autoridades deveriam se concentrar no combate sem tréguas a esse câncer que, embora esteja ligado a problemas de desigualdade, tem uma dinâmica própria. É um problema de segurança pública e respeito às leis que tem de ser resolvido, para que possamos respirar e reconstruir esse maltratado país. Roberto Teixeira da Costa, 67, economista, fundador e vice-presidente do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais), é membro do Conselho de Administração do Banco Itaú. Foi presidente do Conselho de Empresários da América Latina (1998-2000). Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Marco Antonio Rodrigues Nahum: Estado e criminalidade Índice |
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