São Paulo, sexta-feira, 24 de março de 2006

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ROTINA INDECENTE

No que já se vai tornando uma triste rotina, mais dois deputados que receberam ilegalmente recursos do esquema de financiamento urdido pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e pelo publicitário Marcos Valério foram absolvidos no plenário da Câmara. Desta vez, os agraciados foram Wanderval Santos (PL-SP) e João Magno (PT-MG).
O primeiro abocanhou R$ 150 mil; o segundo, R$ 425 mil. Em ambos os casos, a cassação havia sido recomendada pelo Conselho de Ética, órgão que se mostra tão ruidoso quanto decorativo.
Para adicionar mais algum desdouro ao festival de impunidade em que se converteu o Congresso Nacional, o Conselho de Ética do Senado houve por bem arquivar o processo contra o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), pela prática de caixa dois na campanha à reeleição ao governo de Minas Gerais, em 1998. Também Azeredo beneficiou-se de recursos do chamado "valerioduto".
No cômputo geral, sete dos 19 deputados acusados de envolvimento com o chamado "mensalão" foram inocentados. Quatro renunciaram para escapar à punição -decisão de que provavelmente já se arrependem- e cinco ainda estão com seus processos em andamento. Apenas três foram cassados.
Desta vez, além do absurdo instituto do voto secreto, o baixo comparecimento foi decisivo para o desfecho acintoso. Para que um deputado perca o mandato, são necessários 257 votos pela cassação. Apenas 444 dos 513 estiveram presentes. Os dois grandes partidos que agora se apresentam como paladinos da ética e da moralidade, o PFL e o PSDB, também são os que registraram as maiores taxas de ausência, 15,8% e 11,1% das respectivas bancadas.
Uma vez que grande parte da Câmara dos Deputados e do Senado Federal já nem afeta nutrir algum respeito pela opinião pública e abraçou o corporativismo sem peias, a única forma de depurar o Parlamento será através do voto. Cabe a cada eleitor guardar os nomes dos deputados mensalistas e os dos que os apoiaram explicitamente para tentar barrá-los da próxima legislatura.


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