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JOSÉ SARNEY
PMDB, 40 anos
Sem liberdade , não há democracia, e esta não funciona sem partidos. A história dos partidos políticos é
lenta, mas foram eles o grande instrumento de estabilidade dos governos.
Repito a definição clássica de que, numa sociedade pluralista e aberta, constituída de grupos de pressão, o partido
político é classificado como um destes, diferenciado dos outros porque,
em vez de influenciar o poder, ele quer
exercer o poder. No Brasil, talvez pela
sua dimensão, de realidades regionais
diferenciadas, nunca tivemos uma
tradição de partidos políticos. Nosso
modelo foi mais de facções estaduais
que se reúnem a nível nacional em termos de governo e oposição. Assim foi
no Império, na República e é até hoje.
Por isso, quando um partido político
em nosso país completa 40 anos, é um
feito significativo para as instituições.
O PMDB completa 40 anos, e é muito tempo para nós, enquanto é pouco
para a Argentina e o Uruguai, com
partidos centenários.
Em minha vida, conheci dois grandes partidos e pertenci aos dois. Talvez tenham sido os dois únicos partidos nacionais constituídos em torno
de uma causa, a maior de todas: a da
liberdade.
Em 1945, a UDN, depois da queda de
Vargas, se constituía como uma agremiação cuja força era a sua unidade na
diversidade, aglutinando todas as tendências, que abrangiam um leque extraordinário que ia da esquerda democrática aos parlamentaristas de
Raul Pilla. Ela vivia pela chama da democracia e pelo idealismo dos seus
pensadores.
Em 1965, com a Revolução, os partidos tradicionais foram extintos. Nasceu o MDB, no princípio engatinhando, depois sendo o grande núcleo em
torno do qual se juntaram todas as
forças políticas contra o regime autoritário. Nestes 40 anos, prestou consagrados serviços ao país. Teve momentos de glória nas pessoas de Ulysses
Guimarães, Tancredo Neves, Paulo
Brossard e Teotônio Vilela, como eu,
vindo do outro lado. Nós nos juntávamos na velha tradição brasileira, da
Independência, do Império e da República Velha -nesta, monarquistas
e republicanos juntaram-se para que
as instituições permanecessem e se
consolidassem.
Do MDB, depois PMDB, nestes 40
anos, já estou há 22 anos. Fui o presidente da República do PMDB e, sob
minha responsabilidade, fomos o partido da transição democrática, da volta das liberdades. Cumpri o seu programa voltado para as causas sociais.
O lema da Nova República foi: "Tudo
pelo Social". Colocamos na agenda
das decisões nacionais a prioridade do
social sobre o econômico. Nasceram
os programas do leite, o vale-transporte, o seguro-desemprego, o vale-alimentação, a universalização da saúde, a extensão da assistência social aos
trabalhadores do campo. Fizemos o
Plano Cruzado para beneficiar os
mais pobres e distribuir renda. O Brasil cresceu 119% e teve a menor taxa de
desemprego de sua história. Fortificou-se o movimento sindical, ordenou-se o Estado de Direito, com a
Constituinte, eleições diretas e a implantação da segunda maior democracia do mundo ocidental.
Foram 40 anos de um partido que
preservou sua alma, a democracia interna, assegurou nos seus estatutos e
vida o direito de divergir e permaneceu sem donos. Suas aparentes lutas
internas são formas de exercitar
idéias, nada de patológico e tudo de
saúde.
José Sarney escreve às sextas-feiras nesta coluna.
@ - jose-sarney@uol.com.br
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