São Paulo, segunda-feira, 24 de março de 2008

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VALDO CRUZ

Destino traçado

BRASÍLIA - Lula já decidiu. Por enquanto, vai acenar que deseja uma solução negociada para o exagero na edição de medidas provisórias. Mecanismo que criticava quando na oposição, mas pelo qual tomou gosto depois que assumiu a Presidência da República.
E tomou gosto pelo simples motivo de que, com os partidos que temos, o presidente de plantão não tem outro caminho senão usar as MPs para governar. Claro que não precisava exagerar tanto.
Agora, se as negociações no Congresso tomarem um rumo que o desagrade, Lula já avisou seus auxiliares e líderes: ordenará sua base aliada no Legislativo a boicotar a votação de uma emenda constitucional que possa reduzir seus poderes no uso das MPs.
Posso estar enganado, mas esse é o futuro da proposta que nasceu no Congresso para diminuir o número de medidas provisórias. Depois de muito debate, a idéia tende a ficar esquecida em alguma gaveta.
Lula hoje enfrenta o seguinte dilema. Por enquanto, nem dá para dizer que se trata de mais uma conspiração da oposição. A sugestão ganhou força por obra de dois aliados: os presidentes da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN).
Os dois estão no seu papel. Querem tentar melhorar a imagem das Casas que dirigem, que ficam reféns das MPs. O que, sinceramente, não é nada fácil. O Congresso brasileiro, em sua maioria, move-se à base do fisiologismo.
Um espectador privilegiado contou-me na semana passada a que ponto o Congresso chegou. Tem parlamentar governista que ameaça votar contra o Planalto porque não consegue uma verbinha de patrocínio para um evento seu.
Voltando às medidas provisórias, bastará o governo Lula atender de pronto os pedidos de seus aliados, mesmo os esdrúxulos, para conseguir o apoio necessário e sepultar qualquer iniciativa que reduza seus poderes. E os tucanos, silenciosamente, vão agradecer.


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