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ELIANE CANTANHÊDE
"Pobre ignorante"
BRASÍLIA - Enquanto Obama reconhece a legitimidade do plebiscito pró-Chávez na Venezuela e acena com lenço branco e gravação
amistosa até para o Irã, líder do "eixo do mal" de Bush, o que faz o próprio Chávez? Engrossa a voz e vai
trocando de inimigo, do "el diablo"
Bush para o "pobre ignorante"
Obama.
Além da retórica, a ação. Chávez
mantém a expulsão do embaixador
norte-americano em Caracas e acaba de convocar uma reunião da Alba exatamente às vésperas da Cúpula das Américas, que reunirá presidentes de todo o continente em
Trinidad e Tobago, de 17 a 19 de
abril, e será a estreia de Obama no
meio de Chávez e outros muy amigos entre si e muy inimigos de Washington.
A Alba (Alternativa Bolivariana para as Américas) é uma
contraposição à falecida Alca e foro
de confronto aos EUA. Ou seja: a
reunião que Chávez convocou agora não é apenas para tricotar, mas
para já preparar os espíritos e os desaforos contra o "império".
Os ataques de Chávez no front
externo têm um alvo interno.
A Venezuela vive do petróleo, que sofre
queda de demanda e preço. O barril,
que chegou a quase US$ 150, já está
em torno de US$ 50. Ele precisa do
inimigo comum para manter popularidade. Aliás, nada mais manjado.
Chávez também toma providências que arrepiam o mundo, quando
deveriam arrepiar principalmente
os venezuelanos, a caminho se serem "pobres ignorantes" ou "ignorantes pobres". Chávez assumiu o
controle de portos, privatiza bancos
e empresas, prepara-se para uma
guerra. Liquida assim as chances de
investimento externo na Venezuela, simultaneamente às perdas com
o petróleo. Boa coisa não dá.
Isso projeta uma reunião tensa
em Trinidad e Tobago, mas, para
Lula, nada poderia ser melhor.
Quanto mais Chávez ataca, mais ele
defende. E é assim que vai consolidando a imagem de líder moderado,
capaz de "amansar a fera". Desta
vez, para Obama ver.
elianec@uol.com.br
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