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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Partido de programa
SÃO PAULO - O PMDB resolveu
pensar. Eis aí uma notícia: o partido
que se confunde com a política do
pragmatismo cego está disposto a
apresentar sua visão sobre o futuro
do Brasil. A legenda que virou sinônimo de oportunismo e fisiologia
no país teria percebido agora que
lhe falta um lastro (ou lustro) doutrinário. Ora, o PMDB não precisa
de um programa de governo, mas
de um manual de conduta.
Ainda assim, Michel Temer encomendou ao partido um texto que
não seja de "extremos", e sim "moderado para o Brasil". É até divertido o contraste entre uma prática
tão voraz e a retórica da "moderação". Além disso, a ideia de que o
aliado servirá de freio a eventuais
radicalismos do PT na formulação
do governo Dilma Rousseff soa apenas como manobra diversionista
para desviar das reais motivações
de uma aliança que Ciro Gomes batizou de "roçado de escândalos".
A escassez de ideias, de bandeiras
e de lideranças não é, no caso do
PMDB, um problema, mas a condição para que ele seja o que é.
Como o partido, à medida que engordou, perdeu sua massa crítica (e
encefálica), teve que recorrer a um
serviço de "sábios delivery" para
pensar o país. E nada sintetiza melhor o fundo farsesco desse esforço
programático do que a presença de
Roberto Mangabeira Unger entre
os neopeemedebistas pensantes.
Mangabeira -diga-se logo- é um
intelectual de grande envergadura,
criado no ambiente da esquerda liberal norte-americana. Mas suas
ideias, embora originais, foram sendo tragadas pelo ridículo de suas incursões desastradas na vida política
-uma mistura de voluntarismo ingênuo com oportunismo feroz.
Mangabeira já foi brizolista, já
apoiou Ciro à Presidência, já se lançou por um partido nanico ao Planalto, já disse que o governo Lula
era o mais corrupto da história e já
foi, depois disso, ministro de Lula.
Com essa trajetória, faz sentido que
esse Professor Pardal itinerante e
sempre disposto a salvar o Brasil esteja agora a serviço do PMDB.
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