São Paulo, terça-feira, 24 de abril de 2007

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Guarda-chuva nuclear

APESAR de o presidente Vladimir Putin mostrar-se cada vez mais autoritário e pouco confiável, a Rússia ainda é uma potência nuclear, possui poder de veto no Conselho de Segurança da ONU e detém vastas reservas de petróleo e gás natural. É muito mais interessante para o Ocidente tê-la como aliada do que como adversária.
São assim preocupantes as rusgas que vêm surgindo entre norte-americanos e russos por conta dos planos dos EUA de instalar um sistema antimísseis no leste da Europa. Oficialmente, a iniciativa se destina a proteger os EUA e seus aliados de um possível ataque nuclear lançado pelo que a administração Bush chama de Estados-párias, como o Irã.
Na prática, porém, como o Irã e outros "vilões" estão ainda muito longe de dominar a tecnologia de mísseis atômicos intercontinentais, o sistema norte-americano serviria apenas contra os russos e, quem sabe, os chineses.
E mesmo isso precisa ser relativizado. Apesar dos acordos de desarmamento nuclear celebrados pelos EUA e pela então URSS nos anos 80, ambos conservam arsenais capazes de destruir o mundo várias vezes, contra os quais nenhum sistema antimísseis teria muita chance.
Os russos, entretanto, têm boas razões para opor-se à iniciativa norte-americana. Os tratados de desarmamento ainda em vigor proíbem o desenvolvimento desse tipo de arma. Na lógica da Guerra Fria, afinal, era a "destruição mútua assegurada" que evitava a hecatombe nuclear.
Se os EUA fazem tanta questão de modernizar seu parque bélico, devem fazê-lo de forma direta, oferecendo aos russos um novo tratado -e não através de decisões unilaterais.
O risco de não fazê-lo é grande. Além de colocar em perigo a aliança com a Rússia, traz o espectro de uma nova corrida armamentista e até de militarização do espaço. Vale lembrar que a China vem fazendo preocupantes experimentos nessa área.


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