|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Guarda-chuva nuclear
APESAR de o presidente Vladimir Putin mostrar-se
cada vez mais autoritário
e pouco confiável, a Rússia ainda
é uma potência nuclear, possui
poder de veto no Conselho de Segurança da ONU e detém vastas
reservas de petróleo e gás natural. É muito mais interessante
para o Ocidente tê-la como aliada do que como adversária.
São assim preocupantes as rusgas que vêm surgindo entre norte-americanos e russos por conta
dos planos dos EUA de instalar
um sistema antimísseis no leste
da Europa. Oficialmente, a iniciativa se destina a proteger os
EUA e seus aliados de um possível ataque nuclear lançado pelo
que a administração Bush chama
de Estados-párias, como o Irã.
Na prática, porém, como o Irã e
outros "vilões" estão ainda muito longe de dominar a tecnologia
de mísseis atômicos intercontinentais, o sistema norte-americano serviria apenas contra os
russos e, quem sabe, os chineses.
E mesmo isso precisa ser relativizado. Apesar dos acordos de
desarmamento nuclear celebrados pelos EUA e pela então URSS
nos anos 80, ambos conservam
arsenais capazes de destruir o
mundo várias vezes, contra os
quais nenhum sistema antimísseis teria muita chance.
Os russos, entretanto, têm
boas razões para opor-se à iniciativa norte-americana. Os tratados de desarmamento ainda em
vigor proíbem o desenvolvimento desse tipo de arma. Na lógica
da Guerra Fria, afinal, era a "destruição mútua assegurada" que
evitava a hecatombe nuclear.
Se os EUA fazem tanta questão
de modernizar seu parque bélico, devem fazê-lo de forma direta, oferecendo aos russos um novo tratado -e não através de decisões unilaterais.
O risco de não fazê-lo é grande.
Além de colocar em perigo a
aliança com a Rússia, traz o espectro de uma nova corrida armamentista e até de militarização do espaço. Vale lembrar que
a China vem fazendo preocupantes experimentos nessa área.
Texto Anterior: Editoriais: Mínimo esforço Próximo Texto: Paris - Clóvis Rossi: Só peso, sem contrapeso Índice
|