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CLÓVIS ROSSI
Só peso, sem contrapeso
PARIS - O leitor tem todo o direito
de indignar-se com o mais recente
escândalo da caudalosa safra brasileira na matéria, o que pôs sob investigação funcionários graduados
do Poder Judiciário. Só não tem o
direito de surpreender-se.
Qualquer um que tenha acompanhado a ação e o crescimento do
crime organizado em outros países,
em especial na Colômbia, o mais
próximo do Brasil, adivinharia que,
antes cedo do que tarde, a criminalidade entraria também no Poder
Judiciário. É parte do negócio, e o
crime organizado é uma grande
empresa, com mil tentáculos e uma
capacidade de corrupção extraordinária.
O problema, no Brasil, não é apenas a infiltração de criminosos em
todos os três Poderes da República,
mas a aparente incapacidade de todos eles de se corrigirem.
No Executivo, onde parece estar
o foco principal, justamente porque
centraliza o uso do dinheiro público, entra governo, sai governo, ganhe a oposição ou o governo, sempre há novos casos. Não adianta o
presidente encher a boca para dizer
que "nunca neste país se investigou
tanto". Adiantaria, sim, criar uma
cultura e uma vigilância tão fortes
que tornasse menos necessário investigar tanto porque se cometeriam menos abusos.
No Legislativo, é a mesmíssima
coisa. Todas as CPIs, desde a do
Collorgate, velha já de 15 anos, produziram toneladas de denúncias,
suspeitas, casos turvos, explicações
capengas ou nem isso. Mas o Congresso foi incapaz de produzir controles suficientes para evitar que
novas CPIs se tornassem absolutamente necessárias.
O Judiciário, como tanta gente
diz, é uma caixa-preta, mas não passa ao público a sensação de que é capaz de controlar desvios.
Ou, posto de outra forma, os três
Poderes dão a nítida impressão de
que funcionam mais para eles próprios do que para o público, ao qual,
na teoria, pertencem.
crossi@uol.com.br
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