São Paulo, terça-feira, 24 de abril de 2007

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CLÓVIS ROSSI

Só peso, sem contrapeso

PARIS - O leitor tem todo o direito de indignar-se com o mais recente escândalo da caudalosa safra brasileira na matéria, o que pôs sob investigação funcionários graduados do Poder Judiciário. Só não tem o direito de surpreender-se.
Qualquer um que tenha acompanhado a ação e o crescimento do crime organizado em outros países, em especial na Colômbia, o mais próximo do Brasil, adivinharia que, antes cedo do que tarde, a criminalidade entraria também no Poder Judiciário. É parte do negócio, e o crime organizado é uma grande empresa, com mil tentáculos e uma capacidade de corrupção extraordinária.
O problema, no Brasil, não é apenas a infiltração de criminosos em todos os três Poderes da República, mas a aparente incapacidade de todos eles de se corrigirem.
No Executivo, onde parece estar o foco principal, justamente porque centraliza o uso do dinheiro público, entra governo, sai governo, ganhe a oposição ou o governo, sempre há novos casos. Não adianta o presidente encher a boca para dizer que "nunca neste país se investigou tanto". Adiantaria, sim, criar uma cultura e uma vigilância tão fortes que tornasse menos necessário investigar tanto porque se cometeriam menos abusos.
No Legislativo, é a mesmíssima coisa. Todas as CPIs, desde a do Collorgate, velha já de 15 anos, produziram toneladas de denúncias, suspeitas, casos turvos, explicações capengas ou nem isso. Mas o Congresso foi incapaz de produzir controles suficientes para evitar que novas CPIs se tornassem absolutamente necessárias.
O Judiciário, como tanta gente diz, é uma caixa-preta, mas não passa ao público a sensação de que é capaz de controlar desvios. Ou, posto de outra forma, os três Poderes dão a nítida impressão de que funcionam mais para eles próprios do que para o público, ao qual, na teoria, pertencem.


crossi@uol.com.br

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