São Paulo, terça-feira, 24 de abril de 2007

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ELIANE CANTANHÊDE

Esperteza e unanimidade

BRASÍLIA - Enquanto Dilma Rousseff se reunia ontem com o tucano Aécio Neves em Minas, Lula usava o seu programa semanal no rádio para se classificar como "uma espécie de magistrado" e fazer acenos simpáticos à oposição.
Seu pretexto para distender as relações com a oposição é o de "dar um exemplo de pátria civilizada".
Mas parece ser para cooptá-la, ou anulá-la. Lula embolsou (no bom sentido...) o PMDB, tocou o coração mole de ACM, perdoou os mensaleiros da direita, calou as críticas da esquerda e só pensa no PSDB. Aécio pra lá, Serra pra cá, Tasso Jereissatti patriótica e civilizadamente no Planalto.
Só o PFL, digo, o Democratas fica de fora. E só uma parte dele, a comandada na prática pelo duro-na-queda Bornhausen. Mas até isso convém a Lula. Como reduzir a oposição a zero? Não pegaria bem. De tempos em tempos, fica-se sabendo que Lula e os dois principais governadores do PSDB negociam uma "boa convivência" entre o governo federal e seus Estados, com o diálogo, os projetos e as verbas fluindo. Aproveitando o embalo, um fim da reeleição daqui, um aumento do mandato dali.
Agora, volta à tona a versão de que Serra acredita piamente na possibilidade de Lula vir a apoiar a sua candidatura à Presidência em 2010, já que ele é o que há de melhor na "esquerda moderna" e Lula não tem nomes para a própria sucessão, nem no PT nem nos aliados. É ver para crer. Principalmente no PT.
Como lembrança: Lula plantou que apoiava Aldo, e o PT elegeu Chinaglia na Câmara com sua ajuda; Lula plantou que queria Jobim, e o PMDB elegeu Temer para a presidência do partido com seu aval.
Aécio e Serra estão precisando ir mais ao cinema, porque esses filmes todo mundo já viu. Hoje, os dois são mais candidatos a Aldo e a Jobim do que a qualquer coisa. Lula não se satisfaz com maioria; quer unanimidade, para ganhar todas.


elianec@uol.com.br

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