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CLÓVIS ROSSI
A coalizão "do bem"
SÃO PAULO - A catarata de escândalos que os jornais denunciam, dia
sim, outro também, fez aumentar o
número de leitores perguntando o
que cada um pode fazer para tentar
mudar a situação. Respondo sempre que eu não sei, embora desconfie que só a mobilização da sociedade -hoje virtualmente comatosa-
poderá eventualmente mudar alguma coisa, algum dia.
Para reforçar o meu ponto, reproduzo análise de Martin Kettle,
publicada tempos atrás no jornal
britânico "The Guardian".
Kettle começa dizendo que "não
é bom pretender que o Estado é
bom e o mercado é ruim, como a esquerda o faz, ou que o mercado é
bom e o Estado ruim, como a direita
o faz. O único objetivo que importa
é conseguir o melhor "mix" do bom
de ambos os enforques e evitar o
ruim em ambos também".
Ponto seguinte: "É por isso que o
interesse público sempre requer algo mais. Requer que aqueles envolvidos, seja no sistema bancário, seja
em segurança alimentar [eu acrescentaria "seja na política, seja na
administração, seja no Judiciário"],
reconheçam a necessidade de se
comportar bem sem serem obrigados a fazê-lo pelas leis".
A pergunta seguinte, indispensável, é assim: "Como criar, manter e
renovar maiorias que encorajem as
pessoas, as organizações e as instituições a comportar-se responsavelmente e bem, especialmente
quando elas se acostumaram a
se comportar irresponsavelmente e
mal?".
Esta última frase aplica-se à perfeição às instituições políticas brasileiras, a fonte do mal-estar de incontáveis leitores. O fato de ter sido
um colunista britânico a formular a
pergunta só mostra que não estamos sozinhos nos maus costumes.
Mas não pode servir de desculpa
para que cada um deixe de dar a sua
contribuição, como puder, para formar, manter e renovar as maiorias
"do bem". Difícil? Sim. Mas há outro caminho?
crossi@uol.com.br
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