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ELIANE CANTANHÊDE
Na boca do povo
BRASÍLIA - Na avaliação mais
equilibrada, foi exatamente isto o
que faltou na guerra verbal do Supremo: equilíbrio.
Além do fator partidário, já que
Gilmar Mendes é o "líder da oposição" e Joaquim Barbosa é "da cota
do Lula", pesaram também as divergências sobre o modelo de Justiça e o choque de personalidades.
Gilmar e Barbosa vieram do Ministério Público e da mesma turma
-o presidente do Supremo espalha
que tirou primeiro lugar, enquanto
Barbosa ficou "entre os últimos".
Mas cabe a Barbosa o título, sussurrado entre os gabinetes, de "agente
do MP" no Supremo.
Na presidência, Gilmar lidera a
defesa dos princípios clássicos do
direito, mas Barbosa é favorável a
uma certa popularização, ou flexibilização, em favor de uma "Justiça
de resultados", menos camarada
com os poderosos. A que custo?
Por fim, Gilmar é vaidoso, não raro apontado como arrogante, e é,
disparado, o presidente do Supremo que mais se expôs para a mídia.
Já Barbosa tem uma personalidade
agressiva, a ponto de fazer inimigos
entre seus pares. Os ministros Marco Aurélio Mello e Eros Grau nem
sequer falam com ele.
Sem entrar no mérito do confronto entre Gilmar e Barbosa, o fato é que ministros podem e até devem debater pontos de vista contrários, discordar tecnicamente, assumir discursos contundentes, mas
jamais partir para a ignorância.
O esforço de Gilmar e de Lula é
para negar uma crise institucional.
O vexame, porém, ocorre num momento de enorme fragilidade do Legislativo e de dúvidas quanto ao Supremo, depois da troca de e-mails
no julgamento do "mensalão", das
guerrinhas que se multiplicam entre os ministros e da reação negativa aos habeas corpus de Gilmar para Daniel Dantas.
Barbosa ajudou a jogar a opinião
pública ainda mais contra Gilmar,
que, neste momento, representa o
Supremo. Quem cai na boca do povo não é só ele. É a instituição.
elianec@uol.com.br
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