São Paulo, sexta-feira, 24 de maio de 2002

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BRASIL E ARGENTINA

Alguns dos principais mercados para as exportações brasileiras estão se fechando em razão da escalada protecionista global, em que os EUA se destacam. São ruins as perspectivas para a evolução de todos os fóruns de negociação multilateral de comércio em que o Brasil está envolvido. Em questão está a necessidade de alterar as linhas de força da política externa brasileira para que o país possa enfrentar em melhores condições as dificuldades do novo contexto internacional, com a pressão adicional de ter de produzir superávits comerciais crescentes.
Há que definir precisamente, por exemplo, o que fazer do Mercosul. Não o Mercosul "ideal", mas o que é possível construir a partir da situação em que se encontram hoje Brasil e Argentina. O fim do "currency board" significou também o fim do entrave estrutural que impedia a convergência mínima entre os modelos econômicos brasileiro e argentino. Decerto a crise que continua a aprofundar-se no país vizinho dificulta a tessitura de qualquer pacto externo.
Apesar disso, começam a surgir notícias positivas na relação entre Brasília e Buenos Aires. A Argentina anunciou que contestará na OMC os subsídios agrícolas norte-americanos em ação conjunta com o Brasil. Há rumores de que o espinhoso tema do regime automotivo do Mercosul possa ter um encaminhamento favorável proximamente.
Prioridades comuns, como a de gerar divisas pelo comércio e a de substituir importações, sustentam a nova perspectiva de convergência entre Brasil e Argentina. O abandono a que foi condenado o país vizinho pela elite financeira mundial pode estar gerando energia política para romper o padrão de alinhamento incondicional aos EUA, marca dos governos Menem e De la Rúa.
É para esse terreno de relações bilaterais -em parte arruinado, em parte propenso à reconstrução em bases mais sólidas- que seria desejável que os candidatos à sucessão de FHC formulassem propostas. Esse debate exige muito mais do que declarações vagas de apoio ao Mercosul e de solidariedade à Argentina. Exige a definição precisa do que é o Mercosul no projeto de desenvolvimento que cada presidenciável defende para o Brasil.



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