São Paulo, segunda-feira, 24 de maio de 2004

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Por que sou candidato

CLÁUDIO VAZ

Não era para ser assim. Em vez de dois artigos nesta página nobre, eu e meu oponente deveríamos ter debatido ao vivo as nossas propostas, nesta mesma Folha, se ele tivesse aceitado o convite feito pelo jornal nesse sentido.
Embora respeite o seu direito de assim proceder, não posso deixar de assinalar que há um consenso na sociedade de que, em qualquer disputa eleitoral, mesmo em entidades de classe, o confronto de idéias é um instrumento muito mais confiável e legítimo de aferição da capacidade de cada um. Vamos, contudo, aos fatos. Afinal, os leitores e, principalmente, os eleitores é que nos julgarão por nossos atos e palavras.
O Brasil vive um momento absolutamente singular na sua história política. Depois de um longo período de lutas, revelando determinismo e incansável força de vontade, um operário chega à Presidência da República, trazendo para o centro do poder o seu partido,o PT.
Havia um projeto de chegar ao poder, mas não um projeto de governo. Resultado: mantidas as linhas macro da economia, que vinham sendo seguidas desde meados dos anos 90, o país teima em não crescer. É frustrante. É inquietante. A economia, hoje, ancorada nas exportações e na agroindústria. emite claros sinais de esgotamento. Daí a necessidade de novos rumos.
Nesse contexto, uma entidade como a Fiesp ganha uma responsabilidade indelegável e da qual não pode fugir para não renegar a sua história de muitos êxitos e permanente defesa do desenvolvimento brasileiro. Nunca é demais lembrar que, em 1980, o parque industrial brasileiro era igual ao do Canadá e maior do que o de muitos países europeus. O crescimento desde o século 19 havia sido expressivo e consistente. Isso não teria ocorrido sem a ação dos seus líderes industriais no passado. De 1990 a 2003, no entanto, o PIB industrial brasileiro cresceu somente 1% ao ano!
Apesar da forte presença do Estado, a economia brasileira, desde os idos de barão de Mauá, vem sendo liderada por empreendedores com capacidade de ousar, como Roberto Simonsen, no passado, e Antonio Ermírio de Moraes, no presente.
Essa é a motivação maior da minha candidatura. Ao lado dos meus companheiros de diretoria, tenho certeza de que estamos preparados para oferecer o melhor da nossa experiência.


Num país como o nosso, precisamos do Estado como instrumento de efetiva liberdade, indutor de investimentos
A primeira tarefa do empresariado, então, é estar organizado, consciente das suas responsabilidades e, acima de tudo, preparado para ultrapassar a velha querela do antiestatismo sistemático. Num país como o nosso, precisamos do Estado como instrumento de efetiva liberdade, indutor de investimentos, inclusive para dar forma a uma sólida sociedade civil. Isso em nenhum momento abstrai ou elimina a prática da crítica e a condenação dos privilégios. Em síntese, devemos procurar saídas onde elas existem, não onde se apresentam como mera ficção ou camufladas pela intolerância ou mesmo ingenuidade.
Defendo a idéia de que o empresariado industrial brasileiro realize amplo trabalho de integração e articulação entre todos os setores econômicos. E que, a partir dessa coalizão, procure desenvolver produtiva discussão com os atores sociais e políticos sobre a sua visão quanto ao presente do país. O foco essencial são as questões maiores, que inibem a retomada do desenvolvimento sustentado.
Nas minhas propostas de campanha, estas e outras idéias são claramente apresentadas. Além da redução das taxas de juros, oferta de crédito compatível com o que se pratica no mercado internacional, redução progressiva da carga tributária, política cambial consistente, desburocratização e redução das desigualdades regionais, enfatizo a necessidade inescapável de um trabalho específico de apoio técnico aos sindicatos filiados. Principalmente aqueles representativos de setores econômicos típicos de micro e pequenas empresas, fortalecendo a sua sustentação política e estimulando o aumento do número de associados filiados.
O Ciesp, nosso braço civil, que pela sua capilaridade adiciona grande valor para a difusão e apoio das teses da indústria, terá o seu suporte aprimorado para melhor cumprir a sua importante missão, principalmente junto às indústrias do interior paulista.
Combinando alternativas para o conjunto da economia com iniciativas voltadas ao dia-a-dia da produção, daremos novos passos à frente e afirmando a indústria como motor da oferta de empregos e da recuperação da renda.
Por fim, um compromisso público: na minha gestão, o sistema Fiesp/Ciesp ficará afastado de qualquer projeto político-partidário, mantendo o seu diálogo com o governo em seus diferentes níveis, na linha de total transparência e independência. Em suma, a nossa equipe de trabalho acredita firmemente na capacidade do empresariado industrial de promover mudanças pela sua capacidade propositiva e na vontade política de dialogar com o governo e a sociedade de forma coerente e construtiva.

Cláudio Vaz, 56, diretor do Departamento de Economia da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), é candidato à presidência da entidade.


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