São Paulo, segunda-feira, 24 de maio de 2004

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Ação com resultados

PAULO SKAF

O Brasil vive um dos períodos mais ricos de sua história. A mobilização da sociedade, a cargo de milhares de organizações não-governamentais, confere ao país feição de um dos mais promissores laboratórios de democracia participativa do mundo. Os últimos 15 anos foram vitais para o país consolidar a democracia política. As cobranças sociais aproximaram os cidadãos da política, enquanto os princípios da ética e da responsabilidade na condução dos negócios públicos se fortaleceram na esteira de um debate plural.
Mas, ao Brasil politicamente forte, não tem correspondido um Brasil social e economicamente sólido, porque as reformas estruturais necessárias à consolidação do processo de desenvolvimento ou têm sido implantadas parcialmente, de modo a não contemplar o conjunto da atividade produtiva, têm sido ou postergadas.
Sejamos francos. Este país não conhece uma reforma tributária em profundidade. Possui um sistema previdenciário caótico. Uma organização sindical e trabalhista com raízes profundas no passado. Padrões políticos eivados de mazelas. E um quadro social pérfido e injusto: 54% da população brasileira vive abaixo da linha da pobreza.
A conseqüência das distorções se faz ver na assimetria crescente entre as esferas produtiva e financeira, com esta última acumulando capitais, que se descolam das atividades produtivas, prejudicando o desenvolvimento harmônico da sociedade.
O empresariado nacional tem assistido, inerte, à luta extremamente desigual entre a capacidade de endividamento do Estado e sua condição de prover os meios para o desenvolvimento auto-sustentável. A acentuada queda no ritmo do nosso desenvolvimento debilita o setor produtivo. Tendo liderado o ranking de crescimento no mundo entre 1900 e 1973, o Brasil caiu para o 93º lugar, na sombra de políticas inflacionárias, falta de estímulo e de investimentos, lucros cadentes, baixa tecnologia e pequena rentabilidade da produção. A situação continua ruim. O país cresceu a uma taxa média de apenas 2%, que não faz jus ao porte do parque produtivo.
Precária é a situação dos pequenos negócios que formam a base principal do desenvolvimento do país. Dentre os mais de 4 milhões de empresas formalmente constituídas no país, 98% são micro e pequenas, que respondem por 60% da mão de obra empregada, 20% do PIB nacional e por 40% da renda da indústria, do comércio e dos serviços. Mas as empresas de pequeno porte recebem apenas 10% dos créditos concedidos pelos bancos oficiais e privados.


O Estado precisa dar prioridade a novos modelos industriais, amparados nos potenciais das regiões
São Paulo é a radiografia do que se passa no país. Baixou a participação no PIB do país para 34,95% (era de 37% em 1990) e no PIB da indústria nacional para 40% (era de 58% havia três décadas), apesar da boa infra-estrutura criada no Estado para expandir a produção. Por isso mesmo, é hora de reagir. O Estado precisa dar prioridade a novos modelos industriais, amparados nos potenciais das regiões e na valorização de seu capital humano, produtivo, social e ambiental. Esse é o cenário no qual a Federação e o Centro das Indústrias do Estado de São Paulo deverão desenvolver seu novo papel. Um papel de forte liderança, com ações pró-ativas, ágeis, de resultados palpáveis. Um papel que há de incorporar a realidade das cadeias produtivas, com seu imenso potencial de desenvolvimento, e a nova moldura para a competitividade industrial, amparada na pesquisa tecnológica, na integração efetiva e dinâmica com a universidade e na plena utilização de conceitos de gestão inspirados na desconcentração, descentralização, parceria e compartilhamento.
Pretendo conduzir as casas da indústria com a visão de que a articulação política, a mobilização permanente das bases da indústria e a ação empreendedora de resultados são fatores fundamentais à eficácia de nossa missão. Não queremos ser meros coadjuvantes de políticas para a indústria. Queremos estar no centro das decisões. E participar efetivamente do alto sistema decisório.
A Fiesp e o Ciesp não arredarão pé da finalidade da indústria, de suas demandas, expectativas e anseios nos campos do crédito, dos juros, dos tributos, da tecnologia, da competitividade, da formação de quadros, das políticas de fomento, enfim, do fortalecimento das cadeias produtivas. Em vez de priorizar questões endógenas, perdendo precioso tempo com modelos de gestão, deveriam eleger a indústria como centro absoluto de sua atenção. As questões do trabalho, da educação, da saúde, do meio ambiente, da ciência e tecnologia, da segurança, entre outras, inserem-se também nas prioridades da pauta da Fiesp/Ciesp.
Na lição das casas da indústria, estará impresso o dever de evitar que se instale no território a lei da selva, a guerra de todos contra todos. O Brasil carece de paz fiscal. Razões como essas me levam a postular a presidência da Fiesp/Ciesp.

Paulo Skaf, 48, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e do SindiTêxtil e vice-presidente da Fiesp, é candidato à presidência da entidade.


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