|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TENDÊNCIAS/DEBATES
Ação com resultados
PAULO SKAF
O Brasil vive um dos períodos
mais ricos de sua história. A mobilização da sociedade, a cargo de milhares de organizações não-governamentais, confere ao país feição de um dos
mais promissores laboratórios de democracia participativa do mundo. Os
últimos 15 anos foram vitais para o país
consolidar a democracia política. As cobranças sociais aproximaram os cidadãos da política, enquanto os princípios
da ética e da responsabilidade na condução dos negócios públicos se fortaleceram na esteira de um debate plural.
Mas, ao Brasil politicamente forte, não
tem correspondido um Brasil social e
economicamente sólido, porque as reformas estruturais necessárias à consolidação do processo de desenvolvimento ou têm sido implantadas parcialmente, de modo a não contemplar o conjunto da atividade produtiva, têm sido ou
postergadas.
Sejamos francos. Este país não conhece uma reforma tributária em profundidade. Possui um sistema previdenciário
caótico. Uma organização sindical e trabalhista com raízes profundas no passado. Padrões políticos eivados de mazelas. E um quadro social pérfido e injusto: 54% da população brasileira vive
abaixo da linha da pobreza.
A conseqüência das distorções se faz
ver na assimetria crescente entre as esferas produtiva e financeira, com esta última acumulando capitais, que se descolam das atividades produtivas, prejudicando o desenvolvimento harmônico
da sociedade.
O empresariado nacional tem assistido, inerte, à luta extremamente desigual
entre a capacidade de endividamento
do Estado e sua condição de prover os
meios para o desenvolvimento auto-sustentável. A acentuada queda no ritmo do nosso desenvolvimento debilita
o setor produtivo. Tendo liderado o
ranking de crescimento no mundo entre 1900 e 1973, o Brasil caiu para o 93º
lugar, na sombra de políticas inflacionárias, falta de estímulo e de investimentos, lucros cadentes, baixa tecnologia e
pequena rentabilidade da produção. A
situação continua ruim. O país cresceu a
uma taxa média de apenas 2%, que não
faz jus ao porte do parque produtivo.
Precária é a situação dos pequenos negócios que formam a base principal do
desenvolvimento do país. Dentre os
mais de 4 milhões de empresas formalmente constituídas no país, 98% são micro e pequenas, que respondem por
60% da mão de obra empregada, 20%
do PIB nacional e por 40% da renda da
indústria, do comércio e dos serviços.
Mas as empresas de pequeno porte recebem apenas 10% dos créditos concedidos pelos bancos oficiais e privados.
O Estado precisa dar prioridade a novos modelos industriais, amparados nos potenciais das regiões
|
São Paulo é a radiografia do que se
passa no país. Baixou a participação no
PIB do país para 34,95% (era de 37% em
1990) e no PIB da indústria nacional para 40% (era de 58% havia três décadas),
apesar da boa infra-estrutura criada no
Estado para expandir a produção. Por
isso mesmo, é hora de reagir. O Estado
precisa dar prioridade a novos modelos
industriais, amparados nos potenciais
das regiões e na valorização de seu capital humano, produtivo, social e ambiental. Esse é o cenário no qual a Federação
e o Centro das Indústrias do Estado de
São Paulo deverão desenvolver seu novo papel. Um papel de forte liderança,
com ações pró-ativas, ágeis, de resultados palpáveis. Um papel que há de incorporar a realidade das cadeias produtivas, com seu imenso potencial de desenvolvimento, e a nova moldura para a
competitividade industrial, amparada
na pesquisa tecnológica, na integração
efetiva e dinâmica com a universidade e
na plena utilização de conceitos de gestão inspirados na desconcentração, descentralização, parceria e compartilhamento.
Pretendo conduzir as casas da indústria com a visão de que a articulação política, a mobilização permanente das
bases da indústria e a ação empreendedora de resultados são fatores fundamentais à eficácia de nossa missão. Não
queremos ser meros coadjuvantes de
políticas para a indústria. Queremos estar no centro das decisões. E participar
efetivamente do alto sistema decisório.
A Fiesp e o Ciesp não arredarão pé da
finalidade da indústria, de suas demandas, expectativas e anseios nos campos
do crédito, dos juros, dos tributos, da
tecnologia, da competitividade, da formação de quadros, das políticas de fomento, enfim, do fortalecimento das cadeias produtivas. Em vez de priorizar
questões endógenas, perdendo precioso
tempo com modelos de gestão, deveriam eleger a indústria como centro absoluto de sua atenção. As questões do
trabalho, da educação, da saúde, do
meio ambiente, da ciência e tecnologia,
da segurança, entre outras, inserem-se
também nas prioridades da pauta da
Fiesp/Ciesp.
Na lição das casas da indústria, estará
impresso o dever de evitar que se instale
no território a lei da selva, a guerra de
todos contra todos. O Brasil carece de
paz fiscal. Razões como essas me levam
a postular a presidência da Fiesp/Ciesp.
Paulo Skaf, 48, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e do SindiTêxtil e vice-presidente da Fiesp, é candidato à presidência
da entidade.
Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Cláudio Vaz: Por que sou candidato Próximo Texto: Painel do Leitor Índice
|