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CLÓVIS ROSSI
A bolsa ou a vida
SÃO PAULO- A Bolsa de Valores
zerou este ano, até agora, as perdas
sofridas a partir de outubro, auge da
crise. O emprego nem remotamente. O rendimento dos salários tampouco: além de continuar medíocre
como é há séculos, ainda retrocedeu algo mais.
Não obstante, há festa no arraial.
Sinal de que estamos de volta ao espírito pré-crise: o que importa é a
felicidade do capital. A vida, bom, a
vida a gente toca como Deus manda, como diria o caboclo no seu conformismo também secular, afogado
nas águas ou torrando ao sol das secas impenitentes.
Não é só no Brasil. Na Espanha,
por exemplo, a Bolsa, este ano, está
em território positivo. Mas, no ano
até abril, o número de postos de trabalho decepados bateu em 1,1 milhão, à base portanto de 100 mil por
mês, arredondando.
Não obstante, a ministra da Economia, Elena Salgado, vê uma luz
no fim do túnel e é capaz de jurar
que não se trata de trem vindo em
sentido contrário, frase que já deveria ter caído em desuso.
Com isso, a gritaria a respeito da
falência do capitalismo selvagem, a
pregação quase missionária em favor de uma nova arquitetura financeira global capaz de mitigar os efeitos perversos da jogatina -está indo tudo para o saco.
Tanto que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chama de "trambique" as apostas em derivativos, que
afundaram a Sadia. Mas o BNDES,
banco público, põe dinheiro para
ajudar na compra da empresa supostamente "trambiqueira" pela
Perdigão, compra tratada com o codinome de fusão.
Se é trambique, como diz Lula,
deveria ser regulado pelo governo, e
não incentivado via BNDES, não?
Menos mal que pelo menos Barack Obama já soltou seu plano para regular justamente os tramb...
ops, derivativos. Sei não, mas desse
jeito os EUA correm o risco de saírem mais sólidos que outros da crise que criaram.
crossi@uol.com.br
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