São Paulo, terça-feira, 24 de maio de 2011

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

Lambança lilás

SÃO PAULO - No auge da celeuma em torno da estação Higienópolis, dez dias atrás, o leitor Fernando Costa dizia, em carta na página ao lado, que o caso "deveria servir para abrir uma discussão sobre os projetos para o metrô". E perguntava: "Será que as estações precisam ser tão grandes na superfície? No exterior, cansamos de ver estações que, para quem anda na rua, não passam de buracos com escadas."
A observação é ótima. Várias estações do metrô paulistano são construções monumentais, projetadas ostensivamente para cima, mais do que duvidosas do ponto de vista funcional ou arquitetônico.
Os defensores desses templos costumam dizer que eles favorecem a iluminação natural. Pode ser. Mas o que justifica, por exemplo, que a estação Paulista tenha a altura de um prédio de quatro andares?
Não faltam às obras do metrô aberrações à espera de análise mais detida. Inclusive porque o governo tucano acaba de reforçar a sensação de que as empreiteiras deitam e rolam nos subterrâneos da cidade.
Geraldo Alckmin decidiu entregar a continuação da linha 5-lilás aos consórcios suspeitos de fraudar a licitação. Seis meses antes do resultado, a Folha registrou em vídeo e num documento quem seriam os vencedores dos lotes 3 a 8. Foi batata. O anúncio oficial confirmou tudo o que o jornal havia antecipado.
Transcorridos sete meses, o presidente do metrô nos diz: "Os indícios de conluio não se transformaram em provas e sem provas a administração não pode anular a licitação". Ou seja, em vez de investigar o acerto entre as empresas, o governo preferiu ajudá-las a sair do enrosco, pondo sob suspeição a autenticidade das provas do jornal.
Perícia contratada pela Folha, a única realizada com os originais, concluiu que não houve qualquer manipulação nos documentos.
Esse episódio obedece à mesma lógica da impunidade que resultou na invalidação da Operação Castelo de Areia. A linha lilás é mais uma da República das Empreiteiras.


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