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FMI MENOS ORTODOXO
A ortodoxia financeira sempre fez da contenção de gastos
um princípio indiscutível.
Fazer um ajuste fiscal, a qualquer
custo, cortando gastos e aumentando a arrecadação, se tornou uma receita praticamente automática de todo e qualquer pacote do FMI, templo
dessa ortodoxia aplicada aos países
mais pobres. Tudo em nome da prioridade ao pagamento dos compromissos externos.
No entanto, fez-se (alguma) luz. O
Fundo afinal cedeu e aceitou a proposta do governo brasileiro de preservar investimentos produtivos do
monitoramento do ajuste fiscal.
Da meta de resultado primário (arrecadação menos gastos, excluídas
as despesas com juros) passa a ser
descontado o investimento da Petrobras. A mudança foi aceita pelos tecnocratas do FMI porque a empresa
atende a princípios de governança.
Do ponto de vista da contabilidade,
trata-se de reconhecer que um investimento tem retorno. Ou seja, produz um fluxo futuro de receitas que
pode superar o próprio gasto inicial.
Isso diferencia o investimento produtivo feito por uma empresa estatal
de uma despesa pública qualquer
que teria de ser coberta por receitas
de impostos ou por endividamento.
A evolução do FMI equivale também à aceitação de uma crítica bastante antiga à ortodoxia. Economistas críticos sempre ressaltaram que o
ajuste fiscal linear, indiscriminado, é
uma burrice. Para que o futuro de um
país e mesmo sua capacidade de pagamento possam melhorar não basta gastar menos, é preciso gastar melhor. Sobretudo quando se trata de
investimentos numa empresa cujo
produto (petróleo) gera ou ajuda a
poupar divisas, caso da Petrobras.
Há outras lições não apenas para o
FMI, mas também para o governo
brasileiro nesse episódio. A mais importante é a de que vale a pena questionar os preconceitos que vigoram
na ordem financeira internacional.
Longe de ser perfeita, ela comporta e
até mesmo reclama inovações conceituais e institucionais.
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