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A CRISE, SEMPRE
A América Latina está em crise,
um estágio que constitui a regra de sua história. A instabilidade
econômica se abate sobre praticamente todos os países da região. No
centro desse processo está a difícil
digestão dos efeitos colaterais do
modelo de abertura econômica e financeira adotado ao longo dos anos
90. Em alguns países -caso da Argentina, da Venezuela e, mais recentemente, do Peru- às dificuldades
da economia se sobrepõe a agitação
política. Nessa articulação perversa,
a precária experiência democrática
do subcontinente começa, aos poucos, a ser questionada.
Nesse aspecto político-institucional da crise, o Brasil parece constituir
exceção. Por toda a América Latina se
vive um processo de questionamento
dos partidos políticos tradicionais,
como demonstram a ascensão de líderes carismáticos como Hugo Chávez na Venezuela, por um lado, e a
constituição de frentes partidárias
exógenas ao sistema tradicional como a de Alejandro Toledo, no Peru, e
a de Vicente Fox, no México. No Brasil, pelo contrário, os principais partidos se fortalecem.
Mas seria errado fiar-se nessa fotografia institucional e garantir que a
democracia no Brasil esteja a salvo da
onda de desconfiança na política que
se abate sobre a região.
As instituições democráticas implantadas a partir da segunda metade dos anos 80 no Brasil têm resistido ao baixo crescimento econômico
e à persistência de gravíssimas desigualdades sociais. Mas o preço pago
pela sociedade por não ter enfrentado suas mazelas econômicas e sociais é cada vez mais alto. A insegurança crescente da vida nas grandes
cidades talvez seja o indicador mais
dramático da incapacidade do sistema político de proporcionar esperança de um futuro melhor para a
parcela majoritária da população. A
democracia não existe, por exemplo,
em certos morros do Rio de Janeiro e
em certas regiões da cidade de São
Paulo onde o crime organizado impera como poder totalitário.
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