São Paulo, segunda-feira, 24 de junho de 2002

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A CRISE, SEMPRE

A América Latina está em crise, um estágio que constitui a regra de sua história. A instabilidade econômica se abate sobre praticamente todos os países da região. No centro desse processo está a difícil digestão dos efeitos colaterais do modelo de abertura econômica e financeira adotado ao longo dos anos 90. Em alguns países -caso da Argentina, da Venezuela e, mais recentemente, do Peru- às dificuldades da economia se sobrepõe a agitação política. Nessa articulação perversa, a precária experiência democrática do subcontinente começa, aos poucos, a ser questionada.
Nesse aspecto político-institucional da crise, o Brasil parece constituir exceção. Por toda a América Latina se vive um processo de questionamento dos partidos políticos tradicionais, como demonstram a ascensão de líderes carismáticos como Hugo Chávez na Venezuela, por um lado, e a constituição de frentes partidárias exógenas ao sistema tradicional como a de Alejandro Toledo, no Peru, e a de Vicente Fox, no México. No Brasil, pelo contrário, os principais partidos se fortalecem.
Mas seria errado fiar-se nessa fotografia institucional e garantir que a democracia no Brasil esteja a salvo da onda de desconfiança na política que se abate sobre a região.
As instituições democráticas implantadas a partir da segunda metade dos anos 80 no Brasil têm resistido ao baixo crescimento econômico e à persistência de gravíssimas desigualdades sociais. Mas o preço pago pela sociedade por não ter enfrentado suas mazelas econômicas e sociais é cada vez mais alto. A insegurança crescente da vida nas grandes cidades talvez seja o indicador mais dramático da incapacidade do sistema político de proporcionar esperança de um futuro melhor para a parcela majoritária da população. A democracia não existe, por exemplo, em certos morros do Rio de Janeiro e em certas regiões da cidade de São Paulo onde o crime organizado impera como poder totalitário.


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