São Paulo, quarta-feira, 24 de junho de 2009

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Editoriais

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A meta é modernizar


Reduzir nível de inflação tolerada é enfrentar um dos "bons problemas" trazidos pela evolução da economia brasileira

O CONSELHO Monetário Nacional (CMN) reúne-se na próxima segunda a fim de decidir o alvo da política para a inflação em 2011. Fixada a meta em 4,5% ao ano desde 2005 -valor mantido para 2009 e 2010-, discute-se a conveniência de reduzi-la suavemente no período seguinte, à luz da robustez revelada pelas instituições econômicas.
O progresso se reflete no fato de que desta vez o debate sobre metas deixou de traduzir antagonismos atávicos entre correntes ideológicas e teóricas. Há pouca paixão e bons argumentos dos dois lados. Uns, a favor da manutenção dos 4,5%, recomendam prudência e citam obstáculos da economia doméstica que dificultariam uma inflação menor. O outro polo menciona a oportunidade de avançar ainda mais.
A tentativa de reduzir depressa a inflação logo na estreia do sistema, em 1999 -a meta inicial foi de 8%, e a pretendida para 2003 já era 3,25%-, fracassou porque desrespeitou a relação entre o que era apenas um instrumento (o regime de metas) e a realidade da economia brasileira: instável, pouco e mal inserida no sistema de produção global e endividada com o exterior.
O país aprendeu com o tombo. Adotou e perseguiu, a partir daí, metas adequadas para a transição econômica em curso. Fundamental nessa passagem foi a inserção virtuosa das empresas locais no circuito mundial da produção e do investimento produtivo. Além de dar sequência aos ganhos de produtividade que já vinham da abertura dos anos 1990, o processo recente, favorecido pelo "boom" internacional, possibilitou que o Brasil anulasse o endividamento externo.
Esse passo foi crucial para a estabilização financeira. Possibilitou, a seguir, a expansão do mercado doméstico, com o aumento sustentado do poder de consumo de vastas parcelas da população. Ao mesmo tempo, algumas mudanças microeconômicas desataram arcaísmos e liberaram forças produtivas no país.
Apesar dos exageros do Banco Central na dosagem dos juros, o sistema de metas de inflação reforçou essa marcha modernizante ao conferir estabilidade e modicidade às expectativas inflacionárias. Graças à evolução do conjunto de sua economia, o Brasil tem sido capaz de amortecer os golpes da crise internacional. O regime de metas passou incólume pelo pior momento da derrocada global, e os juros domésticos puderam ser reduzidos para combater a recessão -alterando o padrão das crises anteriores.
Agora o Brasil se vê diante de "bons problemas". Resquícios de um passado de inflação alta e economia fechada tornam-se salientes à medida que parâmetros macroeconômicos se aproximam da normalidade, na comparação internacional.
A indexação -de contratos, salários e da dívida pública-, o regime da caderneta de poupança, a obrigação de destinar crédito para este ou aquele setor e os elevadíssimos empréstimos compulsórios são exemplos de práticas e instituições a cada dia mais fora de lugar. O nível tolerado da inflação também. É preciso enfrentar todos esses espectros.
O momento é favorável para indicar que perseguiremos uma inflação um pouco menor a partir de 2011. A meta para aquele ano ainda distante poderia ser reduzida para 4,25%. Outra opção positiva seria, em vez de baixar o centro do alvo, restringir a margem de erro da política oficial -hoje em dois pontos percentuais- para 1 ou 1,5 ponto.
Para que o Brasil possa praticar juros básicos mais baixos ao longo dos próximos anos, reduzir a inflação é uma necessidade.


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