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CLÓVIS ROSSI
No andar de baixo
FRANKFURT - Esqueça um pouquinho todo o alarido em torno de
Brasil emergente, de Brics e futuras
potências. Não que o Brasil não
possa ser potência em algum ponto
do futuro, próximo ou remoto.
O alarido só ajuda a esconder o
presente: o país é ainda do andar de
baixo, diria Elio Gaspari.
Fato: a renda per capita média do
planeta é de US$ 9.316 (pouco mais
de R$ 18 mil). A do Brasil é de US$
8.949, conforme os dados do mais
recente Índice de Desenvolvimento
Humano. O andar de baixo (da média mundial) tem uma vastíssima
população, aliás: 74,7% dos terráqueos vivem nesses países (ou 5 bilhões de 6,71 bilhões).
Não adianta muito, portanto, gabar-se de que o Brasil é a décima
economia do mundo se a renda de
cada um de seus cidadãos está na
parte inferior da tabela. Assim mesmo porque se trata de média. Se se
tomassem apenas os 20% mais pobres, o padrão seria mais africano
que brasileiro.
Ah, já que o presidente Lula acha
que a mídia deveria divulgar apenas
notícias boas, como o aumento do
emprego, em vez de se preocupar
com "desgraças", vamos falar um
pouco de emprego. E fazer de conta
que a aula de jornalismo não é apenas mais uma bobagem da já longa
lista recente que sai da boca do
presidente.
Entre janeiro e setembro de
2008, a geração líquida de empregos formais alcançava, em média,
180 mil por mês, o ritmo mais forte
já observado, escreveu Fernando
Sampaio, um dos ótimos colunistas
desta Folha.
Muito bem: um certo Luiz Inácio
Lula da Silva dizia, quando candidato em 2002, que seria preciso
criar 10 milhões de empregos nos
quatro anos seguintes, o que dá 2,5
milhões por ano e, arredondando
para baixo, 200 mil por mês. Se o
melhor resultado (180 mil/mês)
não chegou lá, também em matéria
de criação de empregos estamos no
andar de baixo.
crossi@uol.com.br
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