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O CRIME QUE COMPENSA
Conspirar contra quem paga impostos é o crime que mais compensa
no Brasil. É o que se vê no Senado,
com apoio do Planalto, nas negociações em torno dos precatórios. Houve até CPI para tentar moralizar e disciplinar a questão. Na prática, quem
emitiu dívida ilegítima ou assumiu
encargos impagáveis, em geral às
vésperas de eleições, é premiado.
Começam no Senado as manobras
para transferir ao governo federal o
ônus do calote de Estados e prefeituras. O escândalo é ainda maior, pois
se trata de dívidas criadas mediante
procedimentos que continuam sub
judice. A manobra prospera porque o
próprio Executivo se dispõe a premiar, aparentemente por conveniência política, governantes caloteiros.
Os governos de Pernambuco, Santa
Catarina e Alagoas, assim como as
prefeituras de Osasco, Campinas e
Guarulhos, foram flagrados em atos
denunciados numa CPI. A prefeitura
paulistana, onde se planejava a emissão irregular de títulos, encontrou
alívio financeiro nos bastidores da
política nacional. Renegociou seus
papéis com o governo federal quando a trajetória de Paulo Maluf parecia
inquietar círculos brasilienses.
Como se já não bastasse o efeito
dessas negociações perniciosas sobre a credibilidade do ajuste fiscal, o
Executivo continua manobrando.
É que a facilitação aprovada no Senado teve a ressalva de que a federalização de dívidas deve esperar decisão
judicial sobre a validade dos papéis.
Mas esse detalhe, introduzido por
emenda à lei de rolagem dos precatórios, afeta as contas do Banco do Brasil, que assumiu esses títulos em outro lance de influência política. Ao
defender o BB, buscando contornar a
decisão judicial, o Planalto pode
ameaçar o que sobrou de responsabilidade na decisão do Senado.
Num momento em que o governo
federal defende uma Lei de Responsabilidade Fiscal, é incongruente que
a irresponsabilidade seja premiada
por quem se diz inimigo dela.
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