São Paulo, quarta-feira, 24 de julho de 2002

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TRAGÉDIA EM GAZA

Só pode ser qualificado como criminoso o ataque israelense à cidade de Gaza ontem, que deixou um saldo de 15 palestinos mortos, nove dos quais eram crianças entre dois meses e 13 anos de idade.
Embora autoridades do governo e o Exército de Israel tenham lamentado a morte de inocentes, parece claro que os militares não fizeram tudo a seu alcance para evitar vítimas civis. Não é preciso ser expert em ciências bélicas para saber que, quando um caça lança mísseis sobre uma cidade densamente povoada como Gaza, as chances de causar perdas significativas na população civil são enormes. Israel foi, no mínimo, imprudente.
O estado de espírito que leva a tal descaso para com a vida fica claro nas declarações do premiê Ariel Sharon, para quem a operação foi "um grande sucesso". O ataque cumpriu o objetivo declarado do Exército de eliminar Salah Shehada, líder do grupo terrorista Hamas. Só quem perdeu até o último traço de humanidade pode chegar perto de classificar a morte de crianças como "sucesso", ou, pior, "grande sucesso".
É verdade que terroristas caçados como o era Salah Shehada costumam, a título de proteção, buscar refúgio em áreas povoadas por civis. Isso não exime Israel, que sempre apregoou possuir uma superioridade moral no conflito, do dever de preservar as vidas de palestinos inocentes. Se um ataque a Shehada colocava vidas de crianças em risco, Israel deveria ter esperado uma nova oportunidade para agir. O líder do Hamas já era procurado havia anos, o que tornava pelo menos relativa a urgência de uma ação contra ele.
Operações criminosas, sem nenhum respeito pela vida de inocentes, como foi a de ontem na cidade de Gaza, apenas contribuem para ampliar a espiral de violência em que se enredaram israelenses e palestinos. Agora resta esperar a resposta palestina ao ataque e o subsequente troco israelense. Quem sabe um dia surjam dois estadistas que consigam pôr um fim a tamanha insânia.


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