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CLÓVIS ROSSI
O risco Morgan
SÃO PAULO - Tudo bem que brasileiro continue adorando as miçangas
dos colonizadores, século e pico depois da Independência.
Mas não é demais continuar levando a sério o tal índice de risco-país,
elaborado pelo conglomerado financeiro JP Morgan (que, aliás, rebaixou
ontem a nota do Brasil)?
Como é que alguém pode considerar o Morgan capaz de medir o risco
de quem quer que seja, se se atolou
no caso Enron até o pescoço? Enfiou,
junto com o Citigroup, US$ 8,5 bilhões em uma companhia especializada em fraudar a contabilidade e
não se deu conta.
Se não é capaz de perceber o risco
que corre sua grana em uma companhia do próprio país em que tem sua
sede, como confiar nas avaliações de
risco que faz sobre países mais ou menos remotos como o Brasil?
Não é tudo: agora, o Congresso dos
Estados Unidos investiga indícios poderosos de que o JP Morgan não foi só
vítima, mas também co-partícipe das
fraudes da Enron (junto, de novo,
com o Citigroup, que, aliás, continua
funcionando até hoje como uma espécie de guru sobre a dívida externa
de países como o Brasil).
Resumo da ópera: uma companhia
que não vê o risco passando junto ao
seu nariz e/ou participa do trambique que põe em risco o dinheiro de
milhões de pessoas continua sendo
confiável, para muita gente, como capaz de dizer que país é mais ou menos arriscado para investir.
Seria ridículo, não fosse trágico.
Aliás, é formidável a capacidade de
se deixar enganar que têm as instituições que mais velam pela sacralidade
do mercado, como o tal de FMI (Fundo Monetário Internacional).
Carlos Saúl Menem, como presidente da Argentina, recebia tapete
vermelho do Fundo. Agora, tem que explicar a sua participação no esquema para encobrir um atentado em Buenos Aires, para o que teria embolsado US$ 10 milhões.
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