São Paulo, quarta-feira, 24 de julho de 2002

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CLÓVIS ROSSI

O risco Morgan

SÃO PAULO - Tudo bem que brasileiro continue adorando as miçangas dos colonizadores, século e pico depois da Independência.
Mas não é demais continuar levando a sério o tal índice de risco-país, elaborado pelo conglomerado financeiro JP Morgan (que, aliás, rebaixou ontem a nota do Brasil)?
Como é que alguém pode considerar o Morgan capaz de medir o risco de quem quer que seja, se se atolou no caso Enron até o pescoço? Enfiou, junto com o Citigroup, US$ 8,5 bilhões em uma companhia especializada em fraudar a contabilidade e não se deu conta.
Se não é capaz de perceber o risco que corre sua grana em uma companhia do próprio país em que tem sua sede, como confiar nas avaliações de risco que faz sobre países mais ou menos remotos como o Brasil?
Não é tudo: agora, o Congresso dos Estados Unidos investiga indícios poderosos de que o JP Morgan não foi só vítima, mas também co-partícipe das fraudes da Enron (junto, de novo, com o Citigroup, que, aliás, continua funcionando até hoje como uma espécie de guru sobre a dívida externa de países como o Brasil).
Resumo da ópera: uma companhia que não vê o risco passando junto ao seu nariz e/ou participa do trambique que põe em risco o dinheiro de milhões de pessoas continua sendo confiável, para muita gente, como capaz de dizer que país é mais ou menos arriscado para investir.
Seria ridículo, não fosse trágico.
Aliás, é formidável a capacidade de se deixar enganar que têm as instituições que mais velam pela sacralidade do mercado, como o tal de FMI (Fundo Monetário Internacional).
Carlos Saúl Menem, como presidente da Argentina, recebia tapete vermelho do Fundo. Agora, tem que explicar a sua participação no esquema para encobrir um atentado em Buenos Aires, para o que teria embolsado US$ 10 milhões.



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