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ELIANE CANTANHÊDE
Pan...demônio
BRASÍLIA - Um sargento da manutenção mexe em alguma coisa errada no Cindacta-4 e -puf!- o sistema inteiro cai. Não por dois ou
três minutos, mas por duas horas e
justamente no início da madrugada, quando os vôos internacionais
que partem de Guarulhos e do Galeão sobrevoam a Amazônia. Um
pandemônio, com aviões de companhias estrangeiras voltando para o
Sudeste ou para os EUA.
Ou o sistema é uma porcaria e
basta um erro qualquer para entrar
em colapso, ou andaram tirando
proveito desse erro para transformar uma pane que seria rápida numa grande dor de cabeça nacional,
com reflexos nos vôos domésticos e
nos aeroportos de todo o país.
No jogo de empurra-empurra, os
controladores de vôo surgem na TV
dissimulados pela contraluz e por
modificadores de voz, alardeando
para o distinto público que o sistema é uma porcaria e relatando que
dois vôos quase batem em Belém.
A FAB, muito mais lenta e medrosa, reage mais de dez horas depois com uma nota lacônica em que
não diz nada, enquanto seus brigadeiros juram pelos cantos que o sistema é ótimo e que não houve quase-acidente nenhum. No Planalto e
na área militar, todos coçam a cabeça pensando num fantasma que
ronda o governo desde setembro do
ano passado: o da sabotagem.
E assim vai-se vivendo. Vivendo
perigosamente, sem saber se técnicos sabem mesmo apertar botões e
parafusos, se controladores vão ou
não fazer nova greve, se a Aeronáutica é capaz de dar uma resposta à
opinião pública e se, um dia, Lula
vai dar ordem à bagunça.
Após a queda do Boeing da Gol,
instalou-se um apagão com direito
a greve e panes sucessivas. Após a
queda do Airbus da TAM, instalou-se a pane no Cindacta-4 -justamente onde houve a reação mais inconformada com a punição dos
controladores pela Aeronáutica.
Más notícias: essa crise vai longe.
O Pan acaba, o pandemônio fica.
elianec@uol.com.br
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